7 de jul. de 2008

a quem quer que seja

Não posso deixar de perguntar: agora, neste momento, posso afirmar algo sobre a vida? Se agora nego tudo, não porque não vejo mais saída, mas porque quero tirar do aspecto trágico da vida um sopro de ação, então percebo que não quero afirmar qualquer coisa. Não poderia repetir esta vida novamente, como se fosse possível, pois sequer posso absorver as constantes quebras do tempo, que ora me jogam para um passado sem perspectivas de progresso, ora me arremessam para um futuro carente de referências.

Quando penso que há uma conclusão acerca das finalidades de qualquer ação cotidiana, é aí que me deparo com um estado de acontecimentos volátil; a sensação de que nada tem um fim, muito menos um começo, me impregna de passividade diante de tudo. E o tudo, ou seja, a totalidade do que me cerca, não presta. Ver movimentos e ouvir discursos não resolve nem a solidão, muito pelo contrário: constato aquilo que me falta, e saio à procura disso. Porém, já sei, de antemão, que não conseguirei alcançar solução alguma para problema algum. Sendo assim, toda procura que se inicia, já se sabe antes de começá-la que não se obterá nada. Procura-se aquilo que sequer se perdeu, porque jamais se teve.

E a busca, a caça, a procura são ações que partem da iniciativa. São atividades, logo exigem esforço, perda de energia e transformação de um estado de repouso para um outro de movimento. Desconsidera-se, em situações de urgência, de desespero, o espaço e também o tempo. A procura, quase cega, por aquilo que achamos que nos pertence, e que perdemos, nos leva a vasculhar cantos, espaços inabitados, gavetas que não nos pertencem... A noção de propriedade é posta em segundo plano. Não nos importa saber a quem pertence essa terra, pois tenho em mim a convicção de que nela pode estar aquilo que move a minha procura. Ao menos, carrego em mim a possibilidade do encontro.

Encontrar o que se deseja nos livra de responsabilidades. É como se, após bagunçar o armário de outrem, encontrássemos o objeto perdido e, depois, o utilizassemos como justificativa da bagunça, ao tentar convencer o dono do armário de que aquela ação invasiva realmente era necessária. “Veja, se não forçasse a barra, não poderia ter agora em minhas mãos isso aqui que tanto procurava”. De fato, a invasão desesperada ao desconhecido nos coloca em outro espaço e em outro tempo – e tempo aí como sendo também um espaço, uma linha espacial.

Se quero muito algo, não me importa, então, quanto tempo eu precisarei para conseguí-lo? Sei que posso entrar e sair, mas durante quanto tempo? A idéia de prazo está, portanto, totalmente ligada ao estado de solidão. A angústia da solidão se dá conforme percebemos que mais tempo estamos gastando com o nada. A solidão em si é eterna, mas saber que a eternidade do tempo é marcada pelo compasso extremamente racional, programado , infinito e infalível do relógio, nos leva a um aprisionamento solitário de nossos desejos mais intimos. Então eu só não gasto tempo refletindo sobre o que eu perdi e devo recuperar, o mais rápido possível, como ainda tenho um prazo, uma meta. A partir do momento que reduzimos um sentimento de angústia em algo resolvível em questão de minutos, passamos a nos tratar como objetos remediáveis, e qualquer desvio é considerado, por nós mesmos, como um fracasso. Ora, fracassei no amor, não porque não encontrei uma pessoa perfeita, que me satisfisesse, mas porque, olhando para trás, vi que perdi chances e, portanto, não há tempo para voltar atrás! O futuro depende do que fiz, e assim tudo depende do tempo que tenho para concretizar ações e decisões.

Um comentário:

Zine Qua Non disse...

Complexo, como tudo!
Complexo como deixamos tudo, não como tudo realmente é.
Mudar aquilo que somos dói, mas pode ser que doa apenas agora, depois não doerá mais.