27 de jul. de 2008

Outro encontro.

Hoje de noite, voltando da locadora de vídeos (dvd's...), virei uma esquina perto de casa, e me encontrei com seu Verdi.

Seu Verdi. Um senhor que mora aqui perto de casa e que é tido como um verdadeiro sábio. Formado em Direito, largou a profissão cedo, para se tornar um militante, desses de deixar qualquer um membro de centro acadêmico da PUC no chinelo...

Viajou praticamente por toda a América Latina e por boa parte da Europa. No Chile, trabalhou na campanha eleitoral de Salvador Allende. Na França, teve um filho. E mais outros que estão espalhados pelo mundo.

Fumou muita maconha, com uma das mulheres e inclusive com uma filha própria. Afirma que se divertiam muito fazendo isso. Mas numa dessas esfumaçadas reuniões de família, caiu duro no chão. Um derrame no cérebro.

A partir de então, muita coisa aconteceu. Fo morar com o pai, "um grande advogado", separou-se e os filhos, todos tomaram rumos diferentes na vida. Publicitária, músico, etc... Verdi colocou filhos no mundo, e todos estão hoje bem. Porém, implora, sempre que me encontra: pense muito bem, umas vinte vezes, se quer mesmo colocar algum filho neste mundo de merda!

Falo com emoção de seu Verdi, pois ano pasado mesmo estive em seu apartamento, para entrevistá-lo. Conversamos durante muitas horas. Ele me contou de suas viagens, sua ação contra o Estado, seus familiares distantes, suas tristezas e amores. Mostrou-me fotos, roupas velhas, e não me ofereceu o que mais lhe falta: algo para comer. Magro, vive de umas poucas gorjetas que, se não me engano, uma tia lhe dá todo mês. Vive também com os trocados que ganha vendendo livros roubados de bibliotecas públicas. Verdi sente vergonha de fazer isso, mas diz que vendendo esses livros, tenta também consciêntizar as pessoas com quem puxa assunto na rua.

Ele fica o dia todo fora de casa. Caminha, fala, politiza a si mesmo.

Hoje, quando o encontrei, depois de meses sem o ver, lembrei daquela manhã quando sentei num simples sofá, bem humilde, e ouvi a voz de um ser humano. Que, aos olhos da grande mídia, é mais um pobre coitado, que incomoda as pessoas dizendo coisas absurdas, pedindo esmolas. Que, aos olhos da grande mídia é um estatística, ou nem isso.

Naquela manhã, fui sim o jornalista que quero ser.

Não me custou, ainda a pouco, parar para conversar com seu Verdi. Que não foi minha fonte, não foi meu entrevistado, não foi personagem e nada dessas baboseiras...O pouco tempo que estive com ele, àquela vez e hoje, não foram suficientes para eu escrever nada sobre ele, ainda.

4 comentários:

Carlitos ® disse...

uma pergunta bruno:
vc encontrou com seu verdi "hoje a noite", mas o kra jah tinha morrido "um dia desses".
vc está vendo pessoas mortas?
huauahuha

Anônimo disse...

Putz já sei o que dar de presente pro Bruno. Aquela camisa I see dead people de algum filme que eu esqueci agora o nome

Anônimo disse...

ele teve um derrame, mas não morreu. a expressão "caiu duro no chão", reconheço, pode ter sido mal colocada no texto.

valeu.

Zine Qua Non disse...

Que lindo!
Lindo, lindo, lindo!
Bruno, sua sensibilidade me encanta e muito, viu, amigo!
Sempre parabéns por esse seu jeito de escrever incrível!

Beijos enormes