23 de set. de 2008

Sobre a química

A química sempre me encantou. Desde bem pequeno, com uns sete, oito anos, eu percorria o meu apartamento catando coisas para colocar e misturar tudo num recipiente. Colocava shampoo com açúcar com álcool com resto do suco de laranja com cola com água com terra da planta com planta com inseto morto...E ficava esperando acontecer algo. Na maioria das vezes, nada acontecia. Mas ou o odor ou a coloração obtidos me agradavam. Depois, jogava tudo no vaso sanitário e dava a descarga. Minha mãe me pegava às vezes realizando umas dessas experiências, e me reprimia. Dizia que eu estava desperdiçando tudo, ao que eu respondia: "é pelo bem da ciência".
 
Um tempo depois, ganhei um daqueles kits de alquimia, algo como "meu primeiro kit de alquimia", da Grow. Vinha com produtos químicos de verdade, tubos de ensaio, pinças, etc. Meu posicionamento diante daquilo não foi diferente de quando eu manuseava os agora "infantis" shampoos. Misturava tudo do mesmo jeito, com a mesma frieza, a mesma cautela, o mesmo cuidado. Sabia, claro, que agora a coisa era bem mais séria...Estava lidando com pó de ferro, magnésio, bromatos, etc.
 
Mas não adiantava. Eu não seguia as experiências propostas pelo jogo, que vinham em forma de pequenos cartões. Para que eu obtivesse bons resultados, eu deveria seguir o que as cartas me diziam. Mas eu lembro que me contentava apenas com as cores que as misturas formavam. Tempos depois, vi que eu gostava mesmo das cores, não dos resultados.
 
Mais tarde, ganhei um microscópio. Simples, de plástico, daqueles feitos para crianças também. Apesar disso, era suficientemente uma grande coisa para mim; meu laboratório estava crescendo, finalmente. Cercado, agora, de tubos de ensaio e um microscópio, eu me afundava na química como um garotinho obeso se afunda numa taça de sorvete gigante.
 
Pegava barata morta na rua, e a dissecava com o bisturi que veio junto com o microoscópio. Pegava uma perna e a botava no aparelho. E isso me bastava.
 
Até o terceiro colegial, a química muito me satisfez. No cursinho, amadureci minhas idéias com relação ao curso que deveria fazer - jornalismo -, mas sem perder por ela o meu respeito.Tinha convicção de que não deveria partir para aquela profissão, e me sentia muito feliz de saber que, na minha lista de cursos que jamais faria, ela, a química, estava sempre em primeiro lugar. É uma relação estranha, não é mesmo? Eu sabia que adorava estudar química (não era o melhor aluno, mas até que me saía bem nos exames), mas sabia que não daria certo seguir minha vida profissional como um químico. Digo até que era uma coisa meio secreta, entre eu e a química: ninguém sabia, sequer suspeitava, do amor entre eu e ela, porque mal nos podiam ver juntos, andando de mãos dadas. Aliás, nunca trocamos palavras em público, o que nos livrou, sempre, de sermos taxados apenas de "bons amigos". Meus livros de química, eles sempre estavam guardados. Só fazia uso deles quando estava em casa, afastado de todos. 
 
Devo à química minha discrição? Não sei. E apesar de não usar mais tubos de ensaio há um bom tempo, jamais me esqueci da coisa mais importante que ela me ensinou, depois de me dizer que o carbono pode efetuar até quatro ligações tetravalentes: jamais declare seu amor à química, a não ser que você não seja um químico. Quem já tem a química em sua vida, subentende-se, não precisa confessar nada disso.
 
 
 
 
 


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6 comentários:

Anônimo disse...

Quando eu tinha uns 10 anos ganhei da minha avó um kit de química "Pequeno Alquimista". Com ele eu fiz uma mancha verde em uma camiseta branca. Não sei o que tinha na mancha, mas a cada lavagem ela ia mudando de cor. Depois da quarta ou quinta lavagem, minha vó jogou a camiseta fora e confiscou meu kit.

Fim deste episódio de uma infância conturbada

Anônimo disse...

De todas as exatas a química era a que eu achava mais suportável e via mais utilidade.
Mas aquela procaria de cálculo estequiométrico acabou comigo.

Anônimo disse...

Das ditas exatas eu teve casos tanto com a química como com a física ( matemática apenas uma "ficada" no final do meu terceiro colegial quando aprendemos algumas coisas de útil).

Acho que todo mundo teve esse kit Pequeno Alquimista. E assim como o Bruno eu nunca seguia os dizeres... na verdade as minhas misturas sempre acabavam se neutralizando e virando uma agua escura (que aprendi mais tarde que era agua e ferro).

Um verso que me veio na cabeça agora e talvez não tenha nada a ver com a idéia é um que o Lulu Santos diz ( eu não me lembro qual musica exata agora)" Eu te amo calado,/ Como quem ouve uma sinfonia /De silêncios e de luz"

Zine Qua Non disse...

Ah, que lindo, Bruno!

Adorei!

Sempre bom ler seus textos e eu tava com saudade deles porque fazia tempo que as coisas não se acalmavam por aqui...

Tem uma cara de ZQN esse texto!

Anônimo disse...

o engraçado é q do q menos falo é sobre química rs..

Sgura disse...

e eu dizia no colegial "pierro, você ainda vai ser cientista", lembro da sua insistência e adoração pelas aulas da ivete (principalmente), e o que dizer das aulas da Cilânia?

Mio dio, já eu meu amigo, a única coisa que sei, é que H2O é água, e olhe lá hein? hahaha