5 de jul. de 2010

Graças a Deus nos livramos dessas babaquices


A eliminação da seleção trouxe alguns pontos positivos. Há males que vem para o bem, diriam alguns colunistas, e pelo menos a gente se livra dessa coisa chamada dunguismo. Tentamos fazer um futebol só de resultados e perdemos, quem sabe voltamos a jogar bola como sempre, diriam outros. Tem alguns outros efeitos colaterais da eliminação que julgo que são até mais importantes que a coisa futebolística em si. Eis as babaquices que a gente se vê livre depois do fracasso em terras sulafricanas:

1) Histeria coletiva no trânsito

Você junta o fato de morar numa cidade movida à gasolina e etanol, em um país que gosta demasiadamente de futebol, com jogos no meio do horário do expediente, e tá dá: está pronta a cagada. Não só pela quantidade absurda de carros na rua, mas também pela maneira absolutamente idiota com que TODO MUNDO parecia estar dirigindo. Fico surpreso como, nesses jogos das 15h30, não tenha acontecido nenhuma carnificina automotiva de proporções bíblicas, do tipo tombamento de caminhão-tanque com conseqüente engavatamento de 300 veículos e outros 150 ônibus com conseguinte queda de avião. Nessas horas dá até para achar que, de fato, Deus é brasileiro - e talvez, até mesmo paulistano.

2) Patriotismo sazonal

Depois da derrota, alguém publicou no facebook: "Adeus patriotismo sazonal!". Achei genial. Ainda mais porque eu próprio sofri na pele por não aderir fervorosamente à "torcida pelo nosso país". No domingo do jogo contra a Costa da Marfim, enquanto minha namorada pintava o rosto de verde-e-amarelo, eu estava numa ressaca braba e sem muito saco pra coisa alguma. Ela, inconformada com meu desânimo de origem hepática, disse: "você é o patriota mais sem graça que eu conheço", nhé nhé nhé. Fiquei meio chateado. Depois, saí com ela na última sexta, e, percebendo que ela xingava os carros com bandeirinhas falando coisas como "tira esse troço, seu tonto" e "esse time de perdedores nhé nhé nhé", emendei: "você é a patriota mais fajuta que eu conheço". Tive minha vingança.
No meio dos jogos eu acabei percebendo que esse tal de "patriotismo" emanava muito mais das fileiras femininas do que das masculinas. Acabei bolando minha própria teoria de boteco para isso: elas não têm o serviço militar obrigatório. É bem divertido ser patriota pintando o rosto e gritando "Braziuu" quando não se tem nenhuma ameaça de saber o que significa a palavra patriotismo na prática e no seu sentido mais puro.

Eu sei bem que, justamente por ser sazonal, essa babaquice vai voltar daqui a quatro anos, e pior do que nunca. Até lá, talvez eu faça como o Belchior e fuja por um mês para o Uruguai, mas ainda não sei.

3) A cara de gripado do Kaká

O Kaká já é um cara meio chato por causa de todo aquela pregação religiosa dele. Vamos deixar claro que não sou contra a religião dele (inclusive tenho um amigo da Renascer), mas sim à sua pregação. O Dentinho, por exemplo, é budista, mas você não vê ele andando por aí com uma camiseta escrito 'I belong to Buda'. Mas isso aí são outros quinhentos.
Reparei a primeira vez na cara de doentinho do camisa 10 naquele comercial da Gillete - aliás, outro jequeira que nos vemos livres. Cara de cansado, nariz vermelho, boca sempre aberta. A partir daí, não conseguia ver ele de outro jeito, e o pior, ele sempre estava com aquela cara! Boca aberta, nariz vermelho. É bem chato ver um jogador da importância dele com cara de quem deveria estar na cama ao invés de jogando bola.

Isso é outra coisa que não acaba com a eliminação, talvez só quando Kaká resolver encerrar a carreira - ou começar a tomar vitamina C de manhã.

4) Comerciais (muito) babacas da Brahma

É normal, em época de Copa, que as empresas se aproveitem do evento e façam propagandas temáticas. Mas a Brahma conseguiu superar todas elas em nível de babaquice.
Primeiro foi aquele do sujeito, no meio de uma arquibancada, gritando e soltando perdigotos de algo initelígivel que supostamente era "VAMO LÁ GUERRÊRÔÔ!!!111onze". Esse papo de guerreiro já era bem babaca por si só, e não colava. Virou uma expressão da moda na publicidade, principalmente com futebol, como aquele bordão do atitude. "Toddy, o achocolatado que tem ATITUDE", etc. Enfim, a coisa do guerreiro foi usado também na apresentação da camisa III do Corinthians - São Jorge, guerreiro, etc - e também de algumas seleções, como o México. E a Rússia. A RÚSSIA.
Quando os russos reinvidicaram o rótulo para si, ninguém mais ficou com moral de dizer que era guerreiro. "Mas esses caras são muito ruins de bola! Nem foram para Copa esse ano!", dirá algum pacheco. E quantos ditadores megalomaníacos nós derrotamos mesmo? Ah, tá.
Depois, veio aquele reclame esquizofrênico, em que aparecia os guerreiros treinando loucamente, depois cortava para um sambinha; alguém berrando e eles correndo feito cavalos, corta prum samba com Brahma; o suor escorrendo, corta pro batuque. No final, a sentença: Quando a alegria encontra com a vontade (ou raça, sei lá), não tem para ninguém. Mal aí, mas não vi nem uma coisa nem outra nesses últimos jogos.
Tinha também a do Dunga ("falo pouco, mas falo como guerreiro" - que tal não falar merda alguma?) e a do "a camisa pesa, a bola pesa, peido pesa". E a derradeira, e campeã, que eles tentavam dar uma zuada com, imagino eu, os alemães - quem mais seria, com aquele uniforme?
Me aparece o Luís Fabiano, entregando a flâmula pro adversário (coisa que é tarefa de capitão, e quem seria idiota de colocar o Luís Fabiano de capitão?) e daí alguém fala: "Pode me encarar. Você vai ver que somos 190 milhões...." E DAÍ que somos 190 milhões? Se tamanho de população contasse, a Índia e a China seriam campeões em tudo. Depois, continua "o drible que desconcerta, a dividida", etc. Ficou faltando "o gol de mão, o pisão quando você já tá caído". E o suposto alemão fica com cara de assustadinho.
Não bastasse sermos eliminados e a Alemanha ter boas chances de ser tetra, era só o alemãozinho dizer: "Herr Fabiano, enquanto você é brahmeiro, eu tô aqui tomando minha cervejinha alemã". Quá.


Thank you, Wesley Sneijder.

2 comentários:

Alan disse...

Patriotismo sazonal é a coisa mais chata desse país durante a Copa.
E a derrota brasileira mostra que é necessário muito mais do a disciplina e a união do Dunguismo para se ganhar um mundial: é preciso talento.
Veja por exemplo a Argentina: um time talentoso, mas bagunçado, ficou na frente do Brasil.

carlitos disse...

Eu tb fiquei mto irritado com essa demonstração de patriotismo imbecil que só vem na hora da Copa. Brasileiro é um sujeito MUITO estranho. Eu fico achando que só aqui esse tipo de coisa acontece. E João, pior que os comerciais da Brahma falando do Brasil são esses comerciais da Coca, da Volks e de um monte de multis por aí que ficam falando "É, não foi agora, mas a gnt é GUERRERO e não desiste nunca. Fica pra daqui 4 anos." mela cueca pra caraio