2 de jun. de 2010

As diferentes coberturas da seleção brasileira

Ontem, antes de ir com a seleção para o Zimbábue, Robinho deu uma entrevista coletiva na concentração da seleção. Falou do seu relacionamento com Elano, disse que quer ser o melhor do Mundial e que vai fazer dancinhas. Criticou a bola oficial da Copa e também cometeu alguns deslizes com relação ao adversário de hoje do Brasil: parecia não lembrar com quem ia jogar, e reconheceu que pouco sabe sobre o Zimbábue, até esquecendo o fato de que jogou com um atacante nascido lá, quando esteve no Manchester City.
A coletiva com o Robinho foi muito boa para avaliar a cobertura dos diferentes modos de visão da imprensa brasileira.
A Espn Brasil faz um tipo de jornalismo esportivo mais crítico e questionador. Algo que, convenhamos, é meio raro na cobertura esportiva - geralmente o pessoal acha que ser crítico é falar mal do técnico ou daquele jogador que não foi lá muito bem. É, declaradamente, o oposto do que faz a Globo. Tanto que o slogan da emissora dos Marinho para a Copa é "Nosso esporte é torcer pelo Brasil", que soa até como provocação ao da Espn, "Informação é o nosso esporte", que vem sendo usado há algum tempo.
No Sportscenter de ontem, na edição do almoço, deram destaque à pouca memória (e, porque não, inteligência) de Robinho. Parece que até mesmo um repórter da casa, André Kfouri, foi quem lembrou ao craque da seleção de seu companheiro esquecido de Manchester City. E ainda deram uma cutucada com relação às críticas sobre a bola, que Robinho afirmou que "quem fez a bola não entende de futebol", lembrando que um dos caras que ajudaram no desenvolvimento da redonda foi, ninguém mais, ninguém menos que Kaká.
No Globo Esporte, também no horário do almoço, o VT sobre a coletiva se focou no relacionamento dos dois jogadores formados no Santos. "Ele é meu irmão branco", disse Robinho sobre Elano. Falou-se um pouco também das dancinhas, e sobrou até um espacinho ali para encaixar o "Zimbábua" que o santista soltou.
A Folha, que também costuma fazer um jornalismo esportivo mais crítico e analítico, mas igualmente gosta de pautas meio mirabolantes, publicou em seu caderno de Esportes: "Com estilo falastrão, meta de ser o melhor da Copa e promessa de fazer a seleção festejar gols à la Santos, Robinho atrais mais patrocínios e engorda a conta". Os enviados do jornal falaram da coletiva como um geral, pouco comentando sobre os deslizes. O foco da matéria era, principalmente, os contratos de patrocínio de Robinho, tanto que foi incluída até uma declaração de Carlos Werner, diretor de marketing corporativo da Samsung, uma das marcas que tem o rapazinho das pedaladas como garoto-propaganda.
Tem muita gente que não gosta do jeito de fazer jornalismo da Espn, especialmente em relação à seleção. Dizem que só sabem torcer contra, que são ranzinas e até mesmo que seriam anti-patriotas ou coisa do gênero - como se fosse muito patriótico torcer para seleção de quatro em quatro anos. Já os jornalistas da casa não cedem, batem no peito e dizem "jornalista é pago para informar, não para torcer".
Até eu, que não vou com a cara do Robinho e gosto muito da Espn, fiquei pensando que talvez eles tivessem pegado pesado demais. Que talvez tenha sido desnecessário, meio exagerado até.
Mas eu concordo com a Espn. Primeiro, porque, dos três meios citado aí em cima, a cobertura da Espn foi a que trouxe a informação mais completa sobre a coletiva, independente do jeito que foi veiculada. Isso é o mínimo que se espera de um canal que é especializado em esportes.
Além disso, é bem saudável, aliás, é quase necessário, que um canal pago traga informações diferentes e sobre outros pontos de vista do assunto que todo mundo está falando. Não fosse assim, se fosse para trazer a mesma notícia que a tv aberta, e do mesmo jeito que é veiculada pela tv aberta, qual seria o sentido de pagar por esse canal?
Ademais, a gente tem que parar de tolerar essa burrice crônica dos jogadores. Alguém pode dizer que, coitado, ele veio de uma família pobre, não teve condições de estudar, pobrezinho. Mas não é disso que estou falando. Saber o nome da seleção que você vai enfrentar não requer estudo. Lembrar que você jogou em uma equipe com um sujeito desse mesmo país também não - só necessita de um mínimo interesse por aquelas pessoas que fazem parte do mesmo ambiente de trabalho que você.
Trocando em miúdos: não quero que os convocados da seleção tenham Mestrado. Mas eles também não tem necessidade de ser umas completas toupeiras.

3 comentários:

Max disse...

Essa questao de jogador sem educacao (educacao formal, diga-se de passagem) e algo que merece ser estudado e discutido com mais profundidade.
Pq o ciclo basico do jogador e abandonar a escola para jogar futebol. Com um pouco de sorte acaba ganhando bem (95% dos jogadores recebem menos de mil reais segundo uma reportagem que eu li um par de meses atras), mas quase todos eles ficam quebrados apos a aposentadoria por nao saberem como poupar e tal. Garrincha talvez seja o caso mais classico disso, mas fica para outro dia uma exposicao maior sobre os fatos.

E logicamente nossos jogadores convocados deveriam ter nivel universitario. So para ilustrar, uma cena: Finazzi, usando a camisa 9 da Selecao, conversa sobre engenharia com Drogba do jogo.

Carlitos disse...

Primeiramente boa tarde, é um prazer estar falando com vocês aí do Androceu. Com-certeza-graças-a-Deus eu concordo com o professor João, a gnt precisa ir em busca aí desses três diplomas. Sempre respeitando o adversário mas confiando no nosso trabalho pá com-certeza-graças-a-Deus dá muita alegria aí pá essa torcida maravelosa.

Alan disse...

A Espn faz o melhor jornalismo esportivo do país. Não é à toa que comprou briga com a CBF e com o Comitê Olímpico Brasileiro por denunciar irregularidades...