4 de ago. de 2009

A vida é uma Bósnia - II

O calor era infernal. Não havia nuvens do céu. As ruas estavam quase vazias às 15h00, quando eu ainda tentava me acertar com o mapa e descobrir mais alguns pontos famosos na parte histórica da cidade. Poucos turistas se dispunham a andar sob o sol que batia direto na cabeça. Eu não era propriamente um turista, mas juntei-me ao time. O ímpeto desbravador pediu licença e o hotel foi meu próximo destino.

Os Beatles tocavam no meu laptop enquanto eu descansava, ora olhando para o teto, ora decifrando caminhos no meu mapa. Eram 18h30 quando um canto vindo de fora, forte, eminentemente masculino, começou a encobrir Paul McCartney. O calor, aliado ao cansaço, impossibilitava qualquer movimento até à janela para tentar descobrir o que acontecia. Passaram-se cinco, dez minutos, e o som continuou, perdendo a intensidade pouco a pouco. Levantei. Não era possível avistar nada de onde eu estava, mas senti que as vozes vinham da rua que dava de frente para minha janela. Pedi licença, dessa vez a John Lennon, e, de bermuda e chinelo, desci para checar com os próprios olhos.

Logo na saída do hotel, dava para perceber que algo grande estava acontecendo. A avenida que terminava no meu endereço em Mostar estava tomada de gente. Atravessei e fui guiado pelo som, que ficava cada vez mais forte. Carros, só os que já estavam estacionados. Já conseguia captar detalhes de quem estava na linha de trás do grupo que andava no meio da rua - só homens, a maioria sem camisa e com uma garrafa ou copo de cerveja na mão. As pessoas na calçada, nas lojas e cafés pelo caminho paravam e davam atenção. Nenhuma tinha medo ou qualquer sentimento do tipo no olhar.

Continuei seguindo. De repente, eles pararam de andar. Eu os alcancei. Eram por volta de 300. O canto parou. Todos agacharam, menos um. O lugar escolhido foi estratégico: um cruzamento, entre o lugar que estávamos e outra avenida, de mão dupla. Aquilo chamava muita atenção. Policiais bloqueavam o transito, ao mesmo tempo em que vigiavam o grupo de certa distância.

O silêncio durou pouco. Quem estava de pé gritou algumas poucas palavras. Os outros responderam, economizando na frase mas não no fôlego. Veio outra incitação. Mais uma resposta em uníssono. Então, veio o chamado às armas, e todos levantaram, sem sutiliza alguma. Pulos, gritos, palmas e histeria. Uns jogam longe o copo de cerveja que têm nas mãos. Algumas garrafas saem rolando também. Outro, mais desinibido, abaixa as calças e mostra a bunda para os motoristas que aguardam aquela manifestação. Eu acompanho tudo da calçada. Desvio o olhar para ler o que está escrito em um cartaz pregado em uma árvore: HŠK Zrinjski (Mostar) x ŠK Slovan (Bratislava).

O campeão da liga da Bósnia Herzegovina contra o campeão da Eslováquia, ambos disputando uma vaga na Copa dos Campeões da UEFA. Eu não podia perder isso.



Gustavo Silva ganhou uma camisa retrô da torcida organizada do HŠK Zrinjski e promete acompanhar os resultados do time no próxio campeonato da Bósnia Herzegovina.

Um comentário:

Max disse...

Traduzindo o nome dos times para a lingua mãe de Silva e cia: Zrinjski e Slovan Bratislava... por sinal, Bratislava não é a cidade ao leste da Europa que aparece no Eurotrip?

E falando em LC, estou orgulhoso do Maccabi Haifa - do glorioso volante Xavier que defendeu as cores do Pq. São Jorge em 2006 - que meteu nada menos que 14 a 0 nos placares somados (lembra as goleadas do Juca) no Glentoran, da Irlanda do Norte e passou para a segunda fase do mais nobre torneio europeu de futebol...