28 de jul. de 2009

A vida é uma Bósnia

No ônibus, há uma senhora sentada ao meu lado. A bem dizer, mais da metade do ônibus é composta de gente que passou dos 50 há um bom tempo. Mas voltando: ela carregava uma sacola, do tipo de feira. Tirou de um saco plástico um pacote pequeno de salgadinho, tipo Elma-Chips. É o Chipsy. Jurava que era batatinha. Não era. O formato é algo como uma concha, fechada, oca, leve, trançada, quase transparente. O sabor indicado na embalagem era queijo e cebola, o visual era de nada e o gosto era de tudo, menos de queijo e cebola. Resumindo: era horrível. Recusei da primeira vez que ela me ofereceu, mas só por educação - estava a fim de provar aquilo. Detestei. Ela colocou o saquinho na minha direção de novo. Recusei, balançando a cabeça negativamente, dessa vez porque era ruim mesmo. Ela falou alguma coisa e continuou com o pacote na minha frente. Peguei mais um e comi. Acabei e ela insistiu para pegar mais um. Tentei um hvala [obrigado], mas não deu certo. Comi bem devagar, porque reconheci que aquela batalha era perdida. E ela estava indo para Srebrenica, ou seja, sabe como uma guerra funciona. O processo se repetiu uma duzia de vezes. No fim, a senhora não queria mais, e me deu o pacote. Tive que comer. Quando sobraram só dois, foi a minha vingança: sugeri para ela pegar um e eu o outro. Insisti. Ela apontou para mim, fez alguns gestos. No fim, o que entendi foi: você é bem magrinho, precisa comer, menino!, e então ela se recusou a comer o último dos salgadinhos. Em plena Bósnia Herzegóvina, achei uma avó.

Gustavo Silva esteve na Bósnia Herzegóvina por 3 semanas e passou por algumas das experiências mais surreais de sua vida. Para saber de outras histórias, aguarde até o final do ano, quando A Vida é uma Bósnia será lançado simultaneamente nas livrarias, bibliotecas, cinemas, locadora, açougues e supermercados Pão de Açucar.

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