31 de ago. de 2007

Sentimos muito.

_Putz! Então você perdeu tudo mesmo?
_Sim...Bem, alguns eu salvei...
_Nossa, você deve estar péssimo, né?
_Até que não, viu...
_Não, deve estar sim, mas, escuta, pode contar comigo, no que eu puder ajudar...
_Não, tá tudo bem mesmo, sério...
_Eu te admiro! Perdeu tudo, e está aí! Firme e forte; com a seriedade no rosto, pronto para o que der e vier.
_Olha, estou bem mesmo, não precisa se preocupar, eu nem me lembrava mais de muita coisa que se perdeu!
_Ah, mas como? Você escreve tão bem! Eu nunca li, mas com certeza, né? Com certeza vai escrever mais...Deixa passar essa fase ruim, né, e aí você vai ver que tudo vai melhorar...
_Meu, valeu, mas sério, estou bem.


Como vocês perceberam, eu, e creio que alguns colegas de Blog Androceu, também tiveram agradáveis conversas com pessoas “sufocadoras”. Tudo porque perdi todos os meus textos que havia postado aqui, ou melhor, lá, no blog antigo e já deletado. Certo, realmente pode até espantar e incomodar mesmo essa frieza e esse estoicismo (vejam só!) que demonstramos ao lidar com esse problema...Muitos amigos, mesmo querendo a nossa volta, queriam, também, respostas e, quem sabe, umas lagriminhas ou depoimentos passionais. Perder tudo, onde já se viu!? Que maldade! De fato. Porém, até agora estou evitando me esforçar para lembrar das coisas que escrevi. Até porque, como alguns sabem, esforçar-me para lembrar das coisas é uma das minhas atividades menos prediletas do que necessárias, principalmente quando falamos de filmes. Provavelmente, se remoer esse passado recente, encontrarei a minha cova.
Mas não falemos disso.

É curiosa a relação que as pessoas tentam manter com a nossa dor, com a dor alheia. E o incrível é que, na tentativa de querer ajudar, acabam não atrapalhando, mas pior: fingindo sentir a dor que o outro deveras sente. Não na maldade, penso, pelo menos em alguns casos. É que diante do sofrimento alheio, a tendência é você, apenas, estampar na face alguma carinha de smile do MSN, geralmente nessa ordem de aparições: “surpreendido”; “desiludido”; “triste” e “a chorar”. A ordem pode variar um pouco, claro: os mais sensíveis já configuram no rosto, de forma direta e sem rodeios, o smile “a chorar”; alguns, os mais controlados, de pulso firme, enquanto ouvem o drama do outro, repleto de fatos horríveis, tristes e bizarros, não passam do estado “surpreendido”. Só não vi, até agora, pelo menos comigo nunca assim fizeram, o estado “símile língua de fora”. Não sei da onde o Messenger tirou isso. Por acaso você, quando está sendo “todo ouvidos” com um amigo, ouvindo dele, ou dela, as angústias, suas dores mais profundas da alma, coloca, espontaneamente, a língua para fora e, ainda com a língua para fora, diz “eu te entendo perfeitamente”? Sei que só de se emocionar com o relato do outro, já é algo válido, mas estou falando da banalização do "sinto muito".
Pior é quando você está ferido em casa.

_Alô.
_Meeeuuu Deeeusss do "céus"! Minha mãe do céu, fiquei sabendo!
_Ah, oi. É, cê vê!
_Como foi?
_Ah, eu estava pulando a fogueira, na festa junina lá do sítio do Dirceu, normal, como todo mundo estava. Só que aí teve uma hora que o fogo deu uma subida, sabe, e aí não tinha percebi...
_Nooosssaaaa! Meu, nem posso ouvir! Tenho aflição só de imaginar. (Ok, o cara liga, diz que ficou sabendo, pede pra você contar, você começa a contar e o cara diz que não quer ouvir...Não ligasse, ora!)
_É, é fogo...Ops...hehehe.
_Nossa, mas e aí? Tá... (parênteses digressivos: imagine que esse interlocutor boçal aí está falando sob um efeito de voz tipo “câmera lenta”) ( nãooo! Por favor, tudo, menos essa pergunta!) Doe... (Nãooooooo, não pode ser, pelo amor de Deeeeuuus) ndo... (ah, não creio,bitchô! Sério mesmo que ele vai perguntar?) mui... (ta louco, é brincadeira, a uma hora dessas!) to?
_Ah, um pouco né? Não dá pra fazer muita coisa aqui na cama, envolto em faixas e gases...
_Cara, você é herói, estamos te aplaudindo aqui no escritório...
_Ah, que é isso, magina, foi nada não...
_Não, você é herói, definitivamente! Está aí suportando tudo, eu não conseguiria...Ouve aí!

*Aplausos do pessoal do escritório: clap, clap, clap...

_Pô, valeu mesmo! Não precisava!


Aliás, não precisava MESMO. Sabe, mas eu gosto dessa coisa de pessoas querendo confortar as outras. Ser tipo um consolo. Nos transmitindo boas vibrações. Todos sabemos que o negócio é forçado, e por isso é engraçado.

O Blog Androceu está aí de volta!

Podem fazer suas carinhas de smile :) , com a careta que preferirem...



Bruno de Pierro, sinto muito ¬¬

Um comentário:

Anônimo disse...

vc tá ganhando pra ser administrador do blog... sinto muito...
e sua perna? qdo amplificador caiu doeu muito?
hahahaha