(Hora de Delírio)Não, não é louco. O espírito somente É que quebrou-lhe um elo da matéria. Pensa melhor que vós, pensa mais livre, Aproxima-se mais à essência etérea. Achou pequeno o cérebro que o tinha: Suas idéias não cabiam nele; Seu corpo é que lutou contra sua alma, E nessa luta foi vencido aquele. Foi uma repulsão de dois contrários; Foi um duelo, na verdade insano: Foi um choque de agentes poderosos: Foi o divino a combater com o humano. Agora está mais livre. Algum atilho Soltou-se-lhe do nó da inteligência; Quebrou-se o anel dessa prisão de carne, Entrou agora em sua própria essência. Agora é mais espírito que corpo: Agora é mais um ente lá de cima; É mais, é mais que um homem vão de barro: É um anjo de Deus, que Deus anima. Agora, sim - o espírito mais livre Pode subir às regiões supernas: Pode, ao descer, anunciar aos homens As palavras de Deus, também eternas. E vós, almas terrenas, que a matéria Ou sufocou ou reduziu a pouco, Não lhe entendeis, por isso, as frases santas, E zombando o chamais, portanto: - um louco! Não, não é louco. O espírito somente É que quebrou-lhe um elo da matéria. Pensa melhor que vós, pensa mais livre, aproxima-se mais à essência etérea. |
6 de set. de 2008
Um poema de Junqueira Freire (1832-1855)
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