30 de mar. de 2009

As palavras e as coisas I

Do alto da ponte, Vicente gritou:

_Cai fora, Roberto!


De acordo com sua esposa, Roberto era um ótimo pai.

24 de mar. de 2009

Primeiro encontro com Charlie Brown, o amendoim

Bruno: oi, clarlie.
CB: Olá, bruno! Como está a vida?
Bruno: Já teve aquela sensação de que só você compreende o mundo? Isso te sufoca, porque quer dizer tudo para todos... mas é impossível.
CB: Não... sinceramente, nunca senti isso.
Bruno: *suspiro*
CB: talvez porque eu seja muito pequeno ainda...
Bruno: Ou talvez porque você não deva compreender isso.
CB: *suspiro*

Aula de Fonoaudiologia!

21 de mar. de 2009

20 de mar. de 2009

BAR X ACADEMIA

Por que será que é mais fácil freqüentar um bar do que uma academia?

Para resolver esse grande dilema, um cientista social freqüentou os dois por uma semana. Veja o resultado desta importante pesquisa para o futuro da humanidade:

Vantagem numérica:
- Existem mais bares do que academias.
Logo, é mais fácil encontrar um bar no seu caminho.
*1x0 pro bar.**

Ambiente:
- No bar, todo mundo está alegre. É o lugar onde a dureza do dia-a-dia
amolece no primeiro gole de cerveja.
- Na academia, todo mundo fica suando, carregando peso, bufando e
fazendo cara feia.
*2x0.**

Amizade simples e sincera:
- No bar, ninguém fica reparando se você está usando o tênis da moda..
Os companheiros do bar só reparam se o seu copo está cheio ou vazio.
*3x0..*

Compaixão:
- Você já ganhou alguma saideira na academia?
Alguém já te deu uma semana de ginástica de graça?
- No bar, com certeza, você já ganhou uma cerveja 'por conta'.
*4x0.*

Liberdade:
- Você pode falar palavrão na academia?
*5x0*.

Libertinagem e democracia:
- No bar, você pode dividir um banco com outra pessoa do sexo oposto,
ou do mesmo sexo, problema é seu...
- Na academia, dividir um aparelho dá até briga.
*6x0.**

Saúde:
- Você já viu um 'barista' (freqüentador de bar) reclamando de dores
musculares, joelho bichado, tendinite?
*7x0.*

Saudosismo:
- Alguém já tocou a sua música romântica preferida na academia? É só
'bate-estaca' , né?
*8x0.*

Emoção:
- Onde você comemora a vitória do seu time?
No bar ou na academia?
*9x0.*

Memória:
- Você já aprontou algo na academia digno de contar para os seus netos?
*10x0 pro BAR!!!**

16 de mar. de 2009

certeza

Bruno: Voce tem certeza?
Ela: Nao sei ao certo ainda...
Bruno: Era tudo o que eu queria saber.
Ela: Sei que tem que acontecer.


E, depois, levantaram; trancaram bem as portas, apagaram a luz. A certeza, portas trancadas e luz apagada. Ninguem poderia invadir a casa, e se o fizesse nao conseguiria enchergar os obstaculos pelo caminho.

14 de mar. de 2009

Aquecendo os motores...

O Carnaval já passou, os campeonatos estaduais já começam a caminhar para seus momentos derradeiros e o cheiro doce oriundo do Centro Acadêmico Benevides Paixão começa a ocupar cada canto do debilitado prédio da Comfil. E aos poucos vamos despertando para 2009.
Os torneios puquianos já voltaram. O velho Ciriloelevens sofreu mais uma reformulação e se tornou eterno – ou até um dos integrantes matar os outros dois em algum momento de fúria extrema – e os fios de cabelos brancos já começam a surgir devido a preocupação do famigerado TCC. E aos poucos vamos acordando para 2009.
A GP Week já voltou a ser publicada. Os últimos testes já foram feitos e todos os olhos já estão na Austrália para a estréia de mais uma temporada do esporte mais glamoroso do mundo: A F-1.
E esse é o motivo deste post. Na verdade é mais um lembrete para alguns de nossos leitores-escritores, pois o Fantasy Grand Prix, uma espécie de Cartola do mundo do automotor, está de volta. Ano passado a Taça acabou indo para a oficina da Scuderia Fischer, que já confirmou presença no grid e promete correr atrás do bicampeonato.
Para de cadastrar é fácil. Basta ter uma conta do Yahoo! (a mesma que você usa para o Orkut, Gmail e etc), fazer um rápido cadastro, montar sua equipe no site http://uk.f1.fantasysports.yahoo.com/f1 e se cadastrar no Ajev Atsiver Championship ( Group ID# 1239 e senha: androceu) . Também é possível entrar em outros torneios como o "Fãs do Hamilton" ou "Fãs da Force India", por exemplo, que não é preciso senha.
Nas próximas semanas, o BLOG ANDROCEU estará acompanhando de perto os dirigentes e pilotos de mais um torneio organizado pela F.O.I.A E, por fim, já desejando sorte para os competidores do tradicional Ajev Atsiver Championship e iniciando mais uma temporada minha de secagem geral e irrestrita ao Felipe Massa: “Vai começar tudo de novo”.

13 de mar. de 2009

e o fim

O reflexo no espelho eh de Cesar. Pertence a ele, mas nao eh ele. E o que a imagem denuncia eh aquilo mesmo o que se ve: um sujeito nao muito alto, extremamente magro, cabelos que jah foram longos, olhar que, mais tarde, vai continuar cancado.

Diz alguma coisa... que, tipo, o lixo nao deve ficar lah fora, jogado no chao. Com o cigarro que estah para terminar, acende um outro, como se de fato nao pudesse viviver um soh minuto sem a nicotina e aquela infinidade de outras quimicas que componhem o USA, o cigarro mais barato que ha por aqui.

Abre a porta, diz que nao estah tao frio. E depois nao diz mais nada.

Percebo que existe na casa algo pesado, algo que nos obriga a ficar o maximo de tempo que pudermos lah. Mas nao podemos. Estah perto da hora de ir, definitivamente. Apos um silencio tibetano, diz algo mais sobre nao deixar o lixo lah fora, jogado no chao. Entra, fecha a porta e ve se estah tudo ok.

A carona chega, e nao era uma carruagem. Nao era a limosine, nem o mustang. E que dirigia nao era a garota de nossos sonhos. Olho para ele e percebo que me diz algo, mas sem mencionar uma soh palavra. Entendo. Sim, por que criar espectativas?

Fechamos a porta, vivemos.

12 de mar. de 2009

E que Ronaldo abençoe a todos

A volta do fenômeno, a lenda renasce, um ser iluminado! Frases repetidas à exaustão, desde o ultimo domingo, sobre aquele que veio para nos redimir: o eterno Ronaldo.
Depois de tantas dificuldades com joelhos, louras jogadoras de futebol, casamentos mal sucedidos, baladas e travestis; eis que uma estrela volta a brilhar. E justo contra o meu Palmeiras, que vencia por um a zero o maior clássico do mundo contra o Corinthians até que, aos quarenta e sete do segundo tempo, veio a cabeçada certeira do craque. Que alegria! Kleber Machado vibrava; Arnaldo vibrava; a televisão relampejava em replays infinitos, a torcida corintiana derrubava alambrados; até os palmeirenses aplaudiam; o Brasil ejaculava junto a Ronaldo. Eis que ressurge do pó nossa alegria de viver, de sermos brasileiros.
Quanta besteira! Não nego que meu sangue alviverde (e um pouquinho parcial) se remoeu com o empate, sobretudo por um gol nos acréscimos, mas me recuso a aceitar o que me dizem desde o ultimo domingo. Que Ronaldo foi um excelente jogador, nunca haverá dúvidas; que o fenômeno foi casca grossa ao ter de superar duas lesões para voltar a jogar, quem discute? Mas que ele seja, assim, um santo, isso é outra coisa.
O fato é que a reconstrução do fenômeno vem de longa data, cada setorzinho da mídia colocava um tijolo nessa parede, e a publicidade e o Marcelo D2 compunham o hino daquilo que seria o dia do retorno! Alguém, afinal, tinha dúvidas sinceras de que Ronaldo voltaria a jogar bem depois de todo esse investimento? Alguém aí pensa que ele ia querer entrar para a história como um ex - melhor do mundo junkie e comedor de travestis, seja lá o que tenha acontecido naquela noite? Não. O jogador já entendeu há muito tempo o quanto sua imagem é valiosa, e o dia do renascimento, meus amigos, chegaria mais cedo ou mais tarde. Ah se chegaria!
Desmerecer o fenômeno, nunca. Afinal em pouco mais de sessenta minutos e dois jogos, ele fez muito mais do que o esperado: driblou bonito, se posicionou bem (aliás, como é de seu feitio), mandou uma no travessão que - além de quase matar o seu Giuseppe do coração - confirma sua capacidade implacável de acertar um gol, seja de onde for. Mas estamos falando de um ser humano ou de um X-Men?
A TV quer a segunda alternativa, vide a lambança que fizeram repórteres, narradores, comentaristas e todos os programas que se possa imaginar. Na Band Luciano do Vale gritava emocionado “Deus existe, Deus existe”, Kleber Machado, o famoso Galvãozinho, não ficava atrás com seu puxa-saquismo global, e Arnaldo César Coelho foi o campeão ao dizer que o juiz fora “insensível” ao dar cartão amarelo para Ronaldo, afinal era “um gol histórico para o futebol mundial”. Bom, eu realmente não sabia que os árbitros tinham que ser sensíveis, achava que deveriam ser frios e manterem a disciplina do jogo, mas essa é uma característica do brasileiro: abrir exceções. Afinal de contas era o Ronaldo, o Fenômeno, o gol da volta, a alegria de se tirar a camisa depois de um acontecimento tão esperado, o tesão de se derrubar um alambrado, o eterno carnaval. A reportagem do Fantástico, no mesmo dia, confirmou toda essa devoção, afirmando que o jogador era mesmo iluminado, e jogando um efeito de luz vindo do céu sobre as imagens de Ronaldo na tela (o que, cá entre nós, foi uma coisa bem piegas). Os mesmos que trataram de destruir a imagem do ídolo, bisbilhotando sua vida pessoal, agora reerguiam a lenda.
O homem, então, tornou-se mais importante que o time, mais importante que o clássico, mais importante que o próprio futebol. A equipe do São Paulo pagou o maior fiasco ao perder para o Mogi Mirim, ex-lanterna do campeonato, por dois a um, mas quem se importa? O Fenômeno voltou! Felipe fez uma cagada homérica que levou ao gol de Diego Souza, mas quem se importa? Ronaldo marcou! Keirrison, artilheiro do campeonato, já entrou para a história do clube palmeirense pelo desempenho em começo de temporada, e vai logo e infelizmente para o exterior, quiçá para a seleção um dia, mas e daí? Ronaldo foi melhor, pelo menos foi o que disse a Folha de São Paulo com um inexistente “duelo de craques”, um tipo de competiçãozinha particular que até os próprios jogadores desconhecem, só a mídia mesmo que entende. E mais uma das boas, o salário dos deputados vai aumentar de novo, mas quem liga? O futebol brasileiro renasce!
Nesse espetáculo, a parte que cabe aos manda-chuvas eu compreendo, mas e quanto ao brasileiro que assiste ao jogo e derrama lágrimas sinceras, o que tira de tudo isso? São rios de dinheiro para um lado, e felicidade e esperança para o outro; recuperamos nossa auto-estima, nossa brasilidade; e a mídia, os patrocinadores, o Marcelo D2, fazem grana, muita grana. Essa é uma troca que se faz por meios turvos, sem acordos, repentinamente, e sobretudo desigual.
Preocupa-me muito o efeito que tem esse escambo, essa compra que fazemos de modelos imagéticos tão bem esteticizados e personificados, esse alívio por uma coisa que não sabemos direito o que é. Bom, mas a vida continua como sempre continuou, vamos todos sentar na sarjeta e chorar, é uma alegria ser brasileiro, e que Ronaldo abençoe a todos.

Por Otávio Table Silvares, publicando religiosamente sua coluna bianual

7 de mar. de 2009

M.F. está sozinho em casa

São sete horas da manhã em São Paulo. O trânsito já começa a ficar intenso porque boa parte dos paulistanos está saindo de casa ou no caminho para entrar as oito ou às oito e meia no trabalho. Na Lapa, porém, M. F. ainda nem se levantou da cama.

De origem judaica e torcedor do Corinthians no único bairro da capital onde a maioria é palmeirense, M. acorda por volta das sete e dez, troca de roupa e bebe somente um copo de leite no café da manhã. Depois, entra no seu Palio 97 e vai dirigindo até o bairro de Perdizes, também na zona oeste de São Paulo, onde faz o curso de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica.

Passados 20 minutos no trajeto entre sua casa e a faculdade, M. chega na PUC por volta das sete e meia da manhã, trajando uma camiseta simples, uma calça jeans e um tênis, ou às vezes uma papete. Alguns de seus jeans parecem ter passado da hora de serem aposentados, mas ele não tem um jeitão muito vaidoso. Seu carro ano 97 e seu jeitinho meio desencanado de vestir passam uma impressão diferente da casa de três andares onde mora em um bairro valorizado da capital.

Seus horários têm variado bastante porque seus pais estão viajando pela França e seu irmão está fazendo um curso em Israel. Sozinho em casa, ele não se sente tão obrigado a levantar no horário habitual. Mesmo assim, ele não costuma faltar ou chegar atrasado. M. gosta da faculdade, mas mais do convívio social do que das aulas em si.

F. é um relações públicas nato. Além de conversar com seus amigos mais próximos, ele também encontra alguns outros conhecidos com quem eventualmente puxa conversa sobre os mais variados assuntos, de fotografia a futebol, com alunos do primeiro ao quarto ano do jornalismo, e inclusive alguns de publicidade.

O ludopédio, aliás, é um de seus temas favoritos. Conversa bastante sobre futebol com C. M., um sorocabano de pouco mais de sessenta quilos que adora polemizar e não foge de uma discussão. Além do C., M. também passa um bom tempo falando do esporte com R. P., talvez uma das poucas meninas do curso que gostem tanto de futebol quanto ele.

Corintiano apaixonado, ele costuma freqüentar o Pacaembu, independente de ter algum amigo que vá junto ou não. O Corinthians é uma de suas paixões e uma das poucas coisas que conseguem tirá-lo do sério. Sempre sorridente, no dia 3 de dezembro de 2007 ele apareceu no pátio da faculdade com a cara fechada. Seus amigos estavam morrendo de vontade de tirarem um sarro de sua cara por causa do rebaixamento do clube paulista, mas tentaram ser um pouco compreensivos.

Em outro episódio, também em 2007, apostou uma caixa de Bohemia com um professor palmeirense, antes do clássico entre os dois times. No Morumbi, o colombiano Valdívia fez a alegria da turma da Barra Funda, e M. perdeu a chance de tomar umas de graça.

Depois de assistir as aulas, ele tem uma programação também muito variável por causa do seu estágio na JPPress. Lá, ele faz a narração online de jogos de futebol, e por isso mesmo seus horários dependem muito da rodada do dia. A cobertura varia desde jogos com mais importância, como os da Copa Libertadores da América, até outros como Grêmio X Brasil de Pelotas, pelo Campeonato Gaúcho, primeiro jogo que fez na empresa.

Mesmo com o estágio, M. mantém uma série de outras atividades, que também não envolvem trabalhos acadêmicos. Duas delas são o podcast e o zine do androceu, blog que mantém com colegas de faculdade desde 2006. Ele é o mentor e uma espécie de editor chefe, tanto do programa de rádio quanto da revistinha, e isso significa que ele despende uma boa dose de tempo e energia editando, diagramando e cobrando textos da sua equipe.

M. tenta ocupar seu tempo, e isso é muito devido ao seu jeito hiperativo. Não é necessário saber do podcast e do zine pra chegar a essa conclusão: só uma conversa curta com ele já se percebe a sua hiperatividade. Max às vezes se enrola com as palavras, tentando fazer com que a fala acompanhe o pensamento – convenhamos, geralmente sem muito sucesso. Mesmo quando não está falando parece que não consegue ficar parado, batucando um pandeiro(ou outro instrumento de percussão) imaginário.

Apesar dos horários meio malucos, ele não reclama de chegar as onze horas em sua casa, porque gosta do seu trabalho. Depois de um dia longo, janta(algumas vezes com tanta fome que não esquenta a comida), entra no computador e vai dormir por volta da uma da manhã. Pra começar tudo de novo no dia seguinte.

6 de mar. de 2009

J.P: Feito e criado na ZL

J.P.C de M sentou em uma das desconfortáveis cadeiras de metal da lanchonete da Faculdade de Comunicação e Arte, a popular Comfil, e se espreguiçou. Na sua frente um gravador de voz. Ao seu lado, esse repórter, ainda sem a menor idéia do que trataria no perfil do entrevistado e mais dois colegas de sala: C.M e L.H.M.
J.P, ou J ou ainda J.B, como é chamado por seus colegas, limpa a garganta e começa a tradicional abertura do podcast que grava semanalmente, o Podcast do Androceu. Normalmente as gravações aconteciam no laboratório de rádio da PUC, mas devido às novas diretrizes da reitoria, toda produção não acadêmica foi suspensa. Para não acabar o programa, as gravações passaram a serem feitas em gravadores de celulares e microfones e editadas artesanalmente.
Na meia hora seguinte, J.P conversa com muito bom-humor sobre as gafes da ex-apresentadora do Globoesporte no Carnaval, a distribuição física das escolas de samba na paulicéia desvairada e defende o fim do campeonato paulista. Após o final da gravação do programa acende um cigarro, hábito que inicia logo após acordar e termina um pouco antes de dormir. Ao todo, J.P fuma quase um maço de cigarro por dia, o que equivale a um prejuízo de R$ 90,00 mensais em seu parco orçamento.
Para se locomover em São Paulo, J.P dirige um Celta de cor negra placa DLA 1673. Normalmente seu itinerário começa com uma carona para sua mãe, contabilista da Associação dos Advogados de São Paulo. De lá, parte para a Rua Atibaia, uma bucólica via de Perdizes aonde ainda é possível encontrar vagas sem flanelinhas às 7:30 da manhã, e assiste as aulas da faculdade. Após as pseudo-aulas do curso de Jornalismo da PUC-SP, J.P dirige até a Vila Zelina, um bairro da zona leste onde passou boa parte de sua infância devido ao colégio e a casa de sua avó D. Mas agora seu destino não é mais a casa de sua avó, falecida em setembro de 2006, mas sim a casa de sua tia-avó N, aonde almoça quase todos os dias por uma questão prática: sua mãe não tem tempo de cozinhar.
Após a refeição, J.P dirigi até a sua casa, localizada na Vila Alpina, outro bairro da Z.L paulistana aonde o único verde da região é uma bananeira localizada perto da delegacia de polícia local e a livraria mais próxima não está ao alcance de uma caminhada comum. Ao chegar em casa, João se deita e assiste alguns programas de TV, entre eles o Globoesporte e a animação Família da Pesada. Logo após o final dos programas, J.P normalmente tira uma soneca que pode variar de alguns minutos até mesmo a tarde toda.
J.P está namorando. A moça de cabelos ruivos, olhos cor de caramelo, estudante de farmácia da São Camilo e torcedora da mesma equipe que João torce se chama G. Alias, mas gosta de ser chamada simplesmente de G. Ambos se conheceram numa festa por intermédio do vocalista da banda em que João é baixista, os The Kobovs.
Formado inicialmente em 2002 devido a uma parceria com seu colega de sala, T.G (guitarrista), a banda acabou ganhando corpo nos anos seguintes quando se juntaram a dupla outros alunos do colégio São Miguel Arcanjo. A formação dos Kobovs é: M.D (voz), R.T (guitarrista solo) e G.O, o Bola (baterista), além do núcleo inicial. Os primeiros shows aconteceram no meio de 2005 e de lá a banda toca em diversos bares da zona leste paulistana com média de público superior ao início de grandes bandas, como os Sex Pistols.
No início da semana, G havia avisado que aconteceria uma festa, mas J.P não pode ir já que na sexta-feira teria aula na faculdade. Para “arrumar as coisas”, saiu na sexta à noite com ela para um restaurante de São Bernardo chamado Gira-Mundo. No cardápio pratos árabes e sobre cada mesa o milenar narguile. De lá, o casal saiu para uma “esticada” em uma das ruas vazias de São Bernardo.
G mora perto do sindicato dos metalúrgicos, onde Lula começou sua carreira política. Normalmente era lá onde as “esticadas” normalmente aconteciam, mas devido ao grande número de pedestres e o medo de serem atuados por atentado ao pudor em plena atividade sexual, o casal resolveu mudar suas atividades noturnas para uma rua mais tranquila.
São quatro e meia da manhã e J.P volta de suas atividades noturnas e desmaia na cama. Poucas horas depois é acordado por sua mãe para mais uma sessão de fisioterapia que acontecem todo sábado de manhã em sua casa. O motivo é uma dor no joelho que o incomoda. Após a sessão, J.P tentou recuperar o sono perdido, mas seu pai, P.J.M, também conhecido com Felipão por sua semelhança com o ex-técnico palmeirense, o acorda para o almoço em família que acontece na casa de seus tios.
Após o almoço familiar, J.P começa organizar sua noite. Ligou para outros dois colegas: A.M e M.D.B.
A amizade dos três data do início da faculdade, mas não foi no trote, onde normalmente os calouros se conhecem. O motivo é que enquanto A.M e J.P sofriam o trote em faculdades distintas de jornalismo, M.D.B estava perdido – e provavelmente bêbado – em alguma cidade do sul da Bahia.
Como a geladeira de M.D.B só existiam seis latinhas de cerveja, os três rapazes pegaram o Celta de J.P e as sombrias ruas do Butantã até o Pão de Açúcar da Praça Pan-Americana para se abasteceram de derivados de cerveja. No total, o grupo acabou comprando mais duas caixas de cerveja barata brasileira, três garrafas de cerveja argentina não tão barata e alguns petiscos.
De volta a casa de M.D.B, o papo rola solto e sem nexo. O papo começa com coisas banais, como a tentativa de criar uma lenda urbana usando o livro Conspiração de Edson Aran, mas à medida que a cerveja começa a agir no organismo de cada um o papo acaba caindo para coisas mais pessoais logo o trio discutia mulheres e carros, não exatamente nessa ordem.
M.D.B é o primeiro a se retirar. Usando um NICORETTE®, já que está tentando parar de fumar, o rapaz se despede dos amigos e vai para seu quarto, localizado na parte superior da casa. Na verdade ele não se retira completamente da conversa, pois de tempos em tempos solta alguns gritos. Pouco depois é a vez de A.M se retirar de cena e subir as escadas. J.P tentou acabou matando mais uma garrafa de cerveja argentina e subiu as escadas, mas em vez de dormir na cama dos pais de M.D.B acabou resolvendo dormir na bicama do quarto de M.D.B.
J.P acorda às 9 da manhã devido ao sol que batia em sua cabeça. Tenta dormir um pouco mais, mas não consegue devido a claridade do novo dia. Desceu as escadas e encontrou A.M já desperto na sala onde resolvem acordar M.D.B, que havia pedido para ser acordado quando eles decidissem ir embora.
Os relógios marcavam 10 e meia da manhã e indicavam uma temperatura de 32 graus, na sombra. João acende o seu cigarro matinal e acelera para a sua ZL.

C.M. : um perfil

Sempre que se ouve falar em Votorantim, o nome remete à bilionária empresa de Antonio Ermírio de Moraes, um dos dez homens mais ricos do Brasil. Poucos sabem, porém, que esse é o nome de um município de mais de 100 mil habitantes, que se emancipou de Sorocaba em 1963.
E foi nesse antigo distrito industrial que, em 1987, nasceu C. M. . E teve uma infância típica interiorana: jogos de futebol no campo de terra do bairro, brincadeiras em ruas tranqüilas. E seu sotaque, hoje menos acentuado por viver em São Paulo há três anos, ainda o faz lembrar dessa época que parece tão distante.
Até os 14 anos, como muitos garotos do interior paulista, torcia por um dos times da capital. Mas surgiu a vontade de acompanhar uma equipe local. E o escolhido foi o tradicional São Bento.
Outro motivo para essa escolha foi que o São Paulo, seu primeiro time, nunca jogava em Sorocaba. C. M. era um dos poucos garotos que o escolheu o São Bento. A maioria torcia pelo Atlético Sorocaba, arqui-rival, fundado apenas 1993. Um time bem estruturado e que recebia mais dinheiro dos patrocínios.
Mas a raça beniditina fez a diferença para C. M. na escolha do time do coração. A final do Campeonato Paulista da série A-3, em 2001, contra o Olímpia, foi auge da equipe nos últimos anos. E C. M. esteve presente no grande jogo.
O São Bento chegou recentemente à primeira divisão do Paulistão e foi campeão da Copa Federação Paulista. Mas o clube passa por problemas financeiros atualmente. Indagado sobre prefeituras que ajudam os times de suas cidades, C. M. não pensa duas vezes: “Não tem que ajudar não. É dinheiro público”.
E como os mais fieis torcedores são aqueles acompanham o time na fase mais difícil, ele faz questão de ouvir todos os jogos do São Bento por uma rádio na internet, mesmo com o delay de vários segundos e a iminente ameaça do rebaixamento para a terceira divisão do Paulistão.
Aos 18 anos veio a grande mudança de sua vida: o garoto do interior veio estudar jornalismo na PUC de São Paulo. O sonho de infância de ser piloto de Fórmula 1 foi impossibilitado por condições financeiras. Achou uma alternativa profissional: “quero ser repórter de jornalismo esportivo, com ênfase em automobilismo”.
Os primeiros meses foram difíceis. Sem moradia na capital, ele acordava todo dia às 4 da manhã. Enfrentava o frio da madrugada sorocabana e desembolsava cerca de R$ 12,00 diariamente pelas passagens de ida e volta. Ao chegar em São Paulo, enfrentava a brutal subida da Rua Cardoso de Almeida, desde a Barra funda até a PUC.
Mas o sofrimento foi recompensado. Ele se mudou com a família para um confortável apartamento há cerca de cinco minutos da universidade, local que mora até hoje.
“Me adaptei facilmente em São Paulo, mas sinto falta do resto da minha família do interior, que agora vejo com menos freqüência”. C. M. costuma visitar sua cidade natal duas vezes por mês.
Fã do programa humorístico da MTV Hermes e Renato, C. M. tem como hobbies jogar Playstation 2. Seus jogos prediletos são Winning Eleven, Gran Turismo e Jackass. Ele inclusive já realizou diversos campeonatos em sua casa, muitos deles marcados por polêmicas, brigas e interrupções.
C. M. escreve desde 2006 no Blog Androceu. Sua entrada na blogosfera foi influenciada por uma tendência dos calouros de jornalismo da época. Conhecido por seus textos polêmicos e considerados até reacionários por alguns de seus críticos, ele fundou outro blog, hoje abandonado: Ajev Atsiver (Revista Veja ao contrário). A referência à publicação conservadora fez com que sua opção ideológica fosse colocada em xeque por seus colegas universitários.
C. M. se diz desanimado com o curso de jornalismo e com a profissão. Já estagiou em duas empresas que foram à falência. “Nos últimos tempos tenho procurado trabalhos na área, mas está difícil...”. A crise financeira atingiu em cheio a área de comunicação e as oportunidades foram reduzidas drasticamente.
Aos 22 anos, ele se diz especialmente triste com o mercado de trabalho: “Pretendo seguir procurando emprego. Caso não consiga, prestarei concurso público”.