Suponha que eu seja você, leitor. E que você seja o Max. Agora, desconsidere, então, o Max neste texto, ou seja, desconsidere a si mesmo, leitor. E, assim, preocupe-se apenas comigo, isto é, no caso você, leitor.
Eu estava voltando de algum lugar. Acho que era do metrô... Estação Ana Rosa.
Parei em frente a um café. Na entrada, um velhinho (não idoso, porque idosos àquela hora, umas duas da tarde, não costumam freqüentar cafés) espiava uma bandeja com pedaços de bolo de cenoura. Antes de voltar meus olhos para a rua, com o intuito de não perder o transporte, certifiquei-me de que não se tratava de um idoso mesmo; afinal, um idoso não estaria, de fato, às duas da tarde de uma segunda-feira – detalhe: uma tarde brutalmente chuvosa – em um café, observando pedaços de bolo de cenoura. Seu lugar seria muito distante dali. Uma praça, talvez.
Daí que o velhinho, que jamais foi uma raposa, adquiriu qualidades de uma. Abriu a tampa da bandeja, olhou para os lados, pegou um dos pedaços do doce, fechou cuidadosamente o recipiente e, com uma sutileza que só a terceira idade pode proporcionar, saiu do recinto. Quando estava para virar a esquina, mordiscou o bolo, que se desfez em farelos úmidos.
Toda a perspicácia e audácia só não foram suficientemente favoráveis, pois faltou ao furtador de muitas viagens os dentes que ora repousam num copo d’água.
4 comentários:
O que o mestre Alborghetti falaria disso?
Ele diria: Cade o meu pau!
E eu responderia: Perdeu as eleições do Androceu para o Bruno.
E agora uma dúvida cruel: o que diabos eu to fazendo no meio dessa história?
Veja Pierro, vou começar a reparar mais nestes senhores de idade, quem sabe não seria o caso de eu ampliar aquela minha teoria da máfia dos velhinhos? Lembra-se?
Existe algo extremamente oculto no coração destes "idosos", e nós estamos longe de saber, mal sabemos o quão perigosos eles podem ser.
Além de seguidor de Gil, me baseio também nos ensinamentos petetownshendianos:
I hope I die before get old.
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