Justamente pelo fato de os blogs constituírem, principalmente, um espaço que viabiliza a autopublicação e permite à mídia alternativa desenvolver novas experiências jornalísticas, no sentido de inventar novas linguagens e formas de dar sentido ao mundo, é que o meio imprenso se encontra numa situação complicada atualmente. A maneira de se fazer jornalismo, tal qual se fazia há algumas décadas, antes do surgimento da Internet – pelo menos quando se pensa na questão do poder e na velha idéia de que somente a grande mídia é portadora dos fatos e da verdade – vem sendo constantemente questionada. Afinal, se a mídia eletrônica, tendo os blogs como a ferramenta mais democratizante, mostra-se como uma alternativa para o jornalismo, resta ao jornal impresso assumir seu papel da profundidade.
Para Silvio Mieli, professor do departamento de Jornalismo da PUC-SP, “o lado legal do blog é que ele desconstrói aquela lógica mais linear dos jornais. O jornal não deixa, pela sua própria natureza, de ser uma espécie de emparedamento da informação, de congelamento do fato, quando ele não é uma coisa mais reflexiva”. Dessa forma, a saída seria o meio impresso dar espaço às “análises de fôlego”, como afirma o professor, que ainda diz que “quando ele [o jornal] é mais reflexivo, ele é atemporal e joga com outras questões”.
Concordando com este pensamento, Carlos Castilho, jornalista e professor de Webjornalismo em Santa Catarina, acredita que o jornalismo vai continuar existindo “só que não mais como uma atividade que monopoliza a produção e a publicação de noticias”.
A preocupação que se tem sobre o futuro do jornalismo impresso não se restringe apenas a esta forma de publicação. Ela se deve também ao fato de que, com a ascensão dos blogs, bem como dos centros de mídia independente na Internet, muito conteúdo informacional e opinativo está sendo publicado por não-jornalistas, que se valem de certas técnicas próprias do jornalismo, chegando a representar uma ameaça para os jornalistas profissionais.
Contrapondo-se ao possível pessimismo, Castilho é categórico ao afirmar que de maneira alguma a profissão está ameaçada. “As novas funções dos jornalistas podem ser as de profissionais da investigação jornalística”. Já para Mieli, a questão tem tudo a ver com a discussão sobre técnica jornalística. De acordo com ele, a técnica não seria o problema, pois, realmente, muitas pessoas que não se formaram em jornalismo, mas escrevem para blogs, desenvolvem algumas técnicas historicamente intrínsecas ao jornalismo. “O problema não é a técnica, mas sim é você se posicionar perante o mundo no qual vive, é dar sentido às complexidades da vida e à realidade, que está em constante mutação. E eu acho que essas coisas são prerrogativas do cara de comunicação e do jornalismo”.
Mas vale ainda deixar claro que, como Daniela Bertocchi, do blog Intermezzo aponta, “alargar o espaço informativo não quer dizer necessariamente comunicar melhor. Quer dizer apenas que há mais espaço para informações, opiniões, análises e conversações”. Nesse sentido, o meio impresso é muito importante para o jornalismo, mas sempre quando sua ação se volta para o tempo da reflexão. Talvez seja isso que vá salvar, ao menos economicamente, os grandes jornais: aí sim os leitores terão espaço para opinar e se informarem – a Internet – e espaço para buscarem mais conhecimento e análises capazes de lhes fornecerem mais conteúdo a ser discutido e pensado – o meio impresso.
Um comentário:
Essa discussão é velha e não vai parar nunca. É igual à discussão sobre os cds vão acabar com o vinil, os mp3s vão acabar com os cds, a internet vai acabar com os livros...
Nada acabará com nada, tenho fé, só o homem acabará com a Terra, mas essa é outra história.
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