2 de jan. de 2008

Água e óleo.

Por que esquecer? Por que aquilo deve ser esquecido? Por que acabou o ano? A gente não precisa contar o tempo; se esperar pelo fim do ano nos trouxesse a recompensa de, no fim, esquecermos as coisas ruins que nos aconteceram durante aquele período, então sempre começaríamos o ano novo zerados, livres de qualquer sofrimento e dor. Mas, aqui do meu quarto, ouço alguém gritar lá da rua: “agora poderei ser feliz”. A angústia sumiu, naquela pessoa. E ela está agora voando pelo céu

Será que, neste momento, o inferno pessoal de cada um simplesmente deixou de existir?

Meu espaço é preenchido por um ar...E nele está dissolvida a fumaça da última queima de fogos. Cheira a fim de festa. Aqui no meu quarto, ligo a TV...Vejo a guerra. O espaço da guerra é preenchido por um ar...E nele está dissolvida a fumaça da última bomba que explodiu. Cheira a fim de vida. De um lado, pela janela, os corpos caem exaustos e vivos, precisando de descanso. Do outro lado, pela TV, os corpos caem feridos e mortos, precisando do descanso final.

Agora sei, apesar disso tudo – desse mal-estar que sinto – que Ela é, para mim, um tipo de deusa. Mas mesmo assim, devo colocar em minha cabeça que eu sou a água; ela, o óleo. Pagaria muito, muito mesmo, para que cientistas dessem um jeito de realizar essa mistura.

Porque sei que milagres não acontecem. Mas também aprendi que a ciência não pode tudo, muito menos pode me dar uma certeza...

O problema é que, aqui do meu quarto, as cinco e quinze da manhã, não tenho como sair decido ao encontro de meus desejos. Nada me sufocou tanto quanto eu mesmo; e assim fico mais tranqüilo, pois sei que eu sou o maior mal para mim mesmo...Ora, por que, então, ter medo dos outros? Não é assim: eu preciso me satisfazer e há alguém pronto para fazer isso? Estou vendo que não, mas é estranho: todo o mundo gostaria de estar gozando agora, explodindo de prazer e felicidade!; mas ao mesmo tempo, escondem-se de si mesmo e dos outros, confortam-se com o virtual mundo que envolve suas vidas. Não estou, na verdade, em meu quarto.

A vida, não sei o que é. Estou fora do meu quarto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Juntar água e óleo?

Fácil, fácil.

É só colocar algumas gotinhas de detergente na mistura que eles se misturam que é uma beleza só.

E se você é a Água, e Ela é o Óleo, basta apenas você achar o detergente para essa reação dar certo.

João Paulo Caldeira disse...

bruno, muito bom o texto, muito bom mesmo. muito sincero e verdadeiro...

Unknown disse...

Gostei mto Bruno... aliás, tenho gostado do rumo dos seus textos nos últimos tempos =)

Zine Qua Non disse...

Percebi!
Seus textos faziam falta, não porque você não postava, mas porque deixei de visitar, sem motivos claros, o Androceu.
Seus textos são bem vindos sempre porque fazem pensar, imaginar. É bom usar a cabeça de vez em quando!