18 de out. de 2007

A última carta.

Não sabia como me dirigir a você, querido, mas penso que assim é melhor. A distância entre nós não é maior do que em meus sonhos ultimamente.

Eu tenho motivos para me desesperar. Porra, tudo desabou em cima da minha cabeça! O bom é que, no sentido figurado aqui, não saí ferida; apenas com algumas seqüelas, claro. Mas sabe? É no meio dos escombros que a gente vê o quanto é pequena e imperceptível: diante do seu sofrimento, tudo é maior que você. É uma pena, mas tem gente que recebe isso como um trauma, e é pequeno o resto da vida. Porém, no meio dos escombros, a gente vê que ainda respira, e quiçá se mexe, mas está vivo. Uma semana sem...sem...
E daí?
Quem pode se afundar mais? Alguém que está na miséria e que não tem nem onde morar?

Eu percebi que você me tinha como um ideal, um algo superior. Mas, acorde! Sou tão humana quanto você! Você queria me encontrar nas estrelas, mas sequer tinha a sorte de me surpreender com um sorriso na porta de casa...Dizia que poderia me encontrar no Espaço, só nós dois...E eu perguntava que como você fazia isso, me deixar daquele jeito? Se você sempre estava lá no alto, eu nunca saí daqui de baixo. Sua estrela aqui, querido, nunca existiu...
Mas sinto sua falta agora.

O que tenho feito, senão jogar conversa fora, dar umas voltas por aí e me cercar de futilidades? Arte, arte, arte! Chega de arte! Ela só serve para o artista! E mesmo sabendo disso, vivo nesse mundinho irreal. A mulher que sabe de arte, mas não a produz! Ah, também choro, e não sei de quê.
Ontem sai andando aqui de casa, fui até o fim da minha rua, virei a esquina, virei outra e mais outra...Quem me visse tão desorientada assim, logo pensaria que eu era louca. E talvez seja. Mas como ainda tenho dúvidas dessa loucura, sei que não a tenho, pois senão seria uma falsa louca. E talvez seja isso mesmo o que eu seja! E você? Já se sentiu assim? Andei tanto, mas tanto, que cheguei onde eu queria chegar, acho: em mim mesma. Descobri-me? Aí, não sei...
Em casa, bem cansada e sozinha, pois todos viajam ainda, despi-me. De frente ao espelho, descobri-me? Não sei. Mas vi-me por completo, queria saber como realmente estou. Sem nada que pudesse me esconder de mim mesma! Abri-me, aproximei-me do espelho, toquei-me, senti-me, examinei-me e fiz poses, afastei-me e gemi. E ainda, depois, vi suas estrelas, sem você por perto. E saiba que naquele momento senti pena sua. Sei que gostaria muito de me possuir da mesma forma como eu o tinha feito! Um prazer só meu...

Quando seremos novamente um par; é isso o que quer saber?

Sei que você é forte...Faça você mesmo algo para manter-se bem...Conheço você e ainda mais sua capacidade de lidar com a dor. Eu.

Um beijo...

Nat.

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