26 de nov. de 2009

Calar

Sentou-se do meu lado, enquanto eu desembrulhava uma bala.

_ Precisamos entender que a palavra constrói é nada! Ela destrói, isso sim! Acaba com o que é dado e deve ser somente dado.

Coloquei a bala na boca.

_ Ao invés de configurar, ela acaba com as realidades. A realidade está aí, mas não a vemos, porque a palavra nos impede.

A bala era horrível.

_ E ela não me entende, cara! Ela acha que meu silêncio me faz mal, que é coisa ruim dentro de mim! Mas não é, pelo contrário! Eu não digo aquilo que simplesmente não tem como dizer, simples!

Joguei a bala fora.

_ Eu sei que deve ser difícil olhar pra minha cara e ter de se conformar com...a minha cara, apenas. Mas o fato é que minha realidade precisa existir! Nem que por instantes; precisam saber que não sou feito de discurso!


A bala estava de fato, comprovadamente, estragada. Uma das experiências mais fascinantes do mundo contemporâneo.

Um comentário:

Max disse...

Triste mundo é esse onde a mais fascinante das experiências se resume a comer uma bala estragada...