Habitante de Araçatuba, cidade do interior do estado de São Paulo, consultor de informática, regente de canto coral e torcedor do São Paulo Futebol Clube. Essas são apenas algumas características de Eduardo Moreira, o Homem dos 1001 podcasts. Em entrevista marcada via Twitter, o podcaster fala sobre como conheceu a mídia, seu início e a importância dos comentários dos leitores na vida de um podcaster. Veja a entrevista abaixo:
Androceu: Como foi a descoberta da mídia podcast?
Eduardo Moreira: Eu descobri o podcast navegando pela internet, buscando novas formas de entretenimento e informação. Nas buscas por antigos arquivos de áudio de programas de rádio, me deparei com o termo podcast, no já finado podcast da MTV. Gostei muito do que ouvi e resolvi consumir este tipo de mídia de forma mais frequente.
A: Como foi o processo de se transformar em um podcaster?
E.M: Isso se deu após três meses ouvindo outros podcasts. Fui percebendo que o processo de criação de um podcast era viável para mim, que já estava inteirado sobre como funcionava os programas de edição. Levei algum tempo lendo sobre o processo de hospedagem dos podcasts no feed RSS e, em abril de 2008, estava gravando meu primeiro episódio. Óbvio que com uma qualidade ainda muito abaixo do desejado, mas foi um início.
A: Segundo muitas pessoas, você, junto com o Jovem Nerd e Maestro Billy, formam a santíssima trindade do Podcast brasileiro. Você concorda com essa afirmação?
E.M: Eu recebo esta afirmação com surpresa, pois o Billy (ADD), o Alexandre e o Deive (membros do Nerdcast) são, efetivamente, verdadeiras celebridades da mídia, entre os ouvintes regulares de podcast, e entre os podcasters efetivamente. Aliás, nem sabia que os ouvintes me consideravam assim. Bom, respondendo sua pergunta, eu acho que tem muita gente muito boa no papel de podcaster. Alguns deles conseguem atuar nesta função até melhor do que eu, como Eduardo Sales Filho (Papo de Gordo), Jabour_Rio (Piratacast), Gustavo Vanassi (Depois das 11), Pablo de Assis (Nerd Express), Jurandir Filho, Maurício Saldanha e PH Santos (Rapaduracast), Gustavo Guanabara (Guanabara.info), entre outros. E não podemos nos esquecer de alguns que vieram antes de nós, como o pessoal do PapoTech, Gui Leite e a Bia Kunze, que foram alguns do que ouvi no começo. Tem muita gente boa e inteligente fazendo podcast hoje no Brasil.
A: Como surgiu a ideia de gravar um podcast solo?
E.M: Surgiu naturalmente, como uma opção. Quando entrei no mundo do podcast, estava efetivamente sozinho, pois não originei meus podcasts de comunidades de internet ou de algumas parcerias no mundo offline. Por isso, como não conhecia ninguém no meio (e muito menos na minha cidade) com disposição e coragem para gravar, resolvi enfrentar o desafio com a cara e a coragem.
A: E no caso do Spin-Off?
E.M: No caso do Spin-Off, que é feito em conjunto com outros podcasters, meio que surgiu de um projeto do Filecast chamado Jabacast, onde estes podcasters se reuniram para fazer um podcast único e promocional. A idéia deu certo, a ponto de criarmos um podcast sobre séries, onde teríamos sempre a participação de vários outros podcasters.
A: Quantas horas por semana você gasta editando?
E.M: Para quem grava podcasts sozinho, é muito mais fácil e rápido o processo de gravação e edição do que quando se grava em conjunto, via Skype, pois o tempo de perda do podcast é menor. Isso precisa ser ressaltado. Em média, cada podcast leva aproximadamente de
A: Como você grava, por exemplo, uma edição do M2List?
E.M: O M2List é o podcast que menos levo tempo para gravar. As playlists do M2List são criadas com, pelo menos, duas semanas de antecedência, dependendo do tema escolhido. Uma vez a playlist pronta, se necessário, faço uma pesquisa com informações sobre o tema da playlist, e já faço a gravação. Em virtude dele ter mais músicas do que falatórios, a gravação das falas do M2List levam, em média, de
A: Você já chegou a cancelar algum compromisso para gravar ou terminar de editar algum podcast?
E.M: Mais os compromissos familiares. Os profissionais e os compromissos do coral eu nunca cancelei. Neste aspecto, a família (ou mais a minha esposa) precisa ser muito paciente e entender que, com o tempo, cria-se um compromisso do podcaster com quem está ouvindo seu programa. Para todo podcaster é muito prazeroso saber que seu programa é ouvido por alguém. Logo, acaba sendo natural esta entrega e abnegação em querer colocar o podcast no ar, na data programada.
A: Qual é a importância de um feedback para um podcaster?
E.M: No meu entender, o feedback dos ouvintes é peça fundamental para que um podcast continue. Não podemos nos esquecer que vivemos num momento de web 2.0, ou seja, não apenas consumimos a informação, mas criamos a informação, através de uma via dupla entre quem produz a informação e quem a recebe. Neste aspecto, a Internet mesmo possibilita que seus usuários possam ter um intercâmbio rápido e direto com quem produz a informação, no caso, o podcaster.
Eu já vi muitos ouvintes reclamando que alguns podcasters sequer se importam com e-mails e comentários feitos nos posts do podcast. Por outro lado, os que comentam no post do podcast, em muitos casos, não chegam a 1% daqueles que escutaram o episódio. Levando-se em conta que, no Brasil, as pessoas ainda ouvem e baixam seus podcasts direto do blog (segundo a Podpesquisa, 60,8% dos ouvintes escutam no próprio site), o feedback é, para mim, o mínimo que o ouvinte pode fazer por nós. Afinal de contas, o programa é feito para eles, e queremos saber onde estamos acertando ou errando, para poder produzir programas melhores.
A: Além do feedback, o que mais motiva você a continuar gravando?
E.M: A possibilidade de interagir e conhecer outras pessoas. Isso foi uma das coisas que o podcast me deu de volta. Conheço pessoas muito interessantes, que me ajudaram a me desenvolver como podcaster. É claro que não vou ser hipócrita a ponto de não dizer que receber alguma compensação financeira, pois isso é sempre muito bom. Felizmente, consigo fazer com que os blogs “se paguem” através de ações promocionais vinculadas aos blogs e aos podcasts, e acho que, se continuar assim, está ótimo. Porém, vejo isso como uma conseqüência do trabalho empregado, e não apenas uma motivação única e imediata. Para mim, o podcast rende muito mais do que ganhos materiais: rende boas amizades, conhecimento, maiores possibilidades profissionais, etc.
A: Você já pensou em abandonar o podcast em algum momento?
E.M: Abandonar a mídia podcast, em si, não. Tive vontade de encerrar o Feedback News Podcast por falta de comentários dos ouvintes, mesmo sendo um podcast com um bom número de downloads por episódio. Porém, um detalhe importante que todo podcast deve fazer quando sentir que o programa não está mais fluindo como antes: renovação. Mudar o formato, acrescentar elementos novos em termos de pauta ou edição é fundamental para se dar uma sacudida, para despertar algum tipo de reação nos ouvintes. Bom, falo isso pela minha experiência pessoal, e não que isso seja uma regra, mas ajuda a evitar que o programa caia em um efeito do tipo “ouvinte passivo, podcast que passa alheio às pessoas”, etc.
A: De
E.M: Nota 8. Pelo seguinte: neste período de mais de um ano e meio como podcaster, passei por muitas experiências que me mostraram que, por mais que a gente goste do processo de fazer o programa, publicar e ver o resultado do mesmo ecoando pela internet, esta mesma atividade não pode interferir a ponto de você deixar tudo de lado para apenas ficar gravando e editando. Hoje, para mim, o podcast é como uma atividade profissional, encaro ele como minha “pequena empresa”, e procuro focar meu tempo dedicado à ele como um compromisso sério. Mas, na frente disso, tenho minha esposa, meus corais, minha profissão como consultor de tecnologia, meus familiares, os meus momentos de lazer. Mesmo porque, são coisas na minha vida que chegaram antes da mídia podcast.
A: Atualmente você escuta quantos podcasts?
E.M: Tenho em torno de 35 podcasts assinados em meu RSS, fora alguns programas que ouço quando são publicados em seus blogs. Bom, citando alguns deles: Depois das 11, Papo de Gordo, Nerd Express, Nerdcast, ADD (Mastro Billy), Piratacast, Pod Sem Fio (Bia Kunze), Bola nas Costas, Bola nas Costas Iscuitantes, Radio OnBoard, Endzone, Rapaduracast, Metacast, Guanabara.info, Monacast, PapoTech, SOS Hollywood...
A: Saindo um pouco de Araçatuba, a mídia Podcast já é uma realidade no Brasil?
E.M: O podcast ainda tem muito para crescer no Brasil, como um todo. De forma proporcional ao número de pessoas conectadas em território nacional, o podcast ainda tem uma longa jornada pela frente. No meu ver, falta o podcast nacional se apresentar efetivamente para as outras mídias (rádio, TV, jornais, etc), e mostras que é uma mídia complementar, que vem para adicionar mais informação e entretenimento para os ouvintes. O podcast é uma forma prática de se receber um conteúdo exclusivo de notícias, variedades, tecnologia, humor, etc.
A: Como é a relação entre os podcasters brasileiros?
E.M: A grande maioria dos podcasters pensam da mesma forma: são solidários, colaborativos, parceiros mesmo na idéia de se ajudar. É claro que, como em todo segmento de mídia, existem aqueles que não estão tão sintonizados com certos aspectos e pensamentos sobre como devemos proceder com o podcast no Brasil. Porém, isso não impede que a produção de programas continue e que aqueles que estão sintonizados nos mesmos objetivos continuem se ajudando, fazendo suas produções e ajudando outros podcasters a prosperarem. Mas, de um modo geral, a maioria dos podcasters são gente muito boa de se conviver.
A: Que dica você pode dar para quem gostaria de começar hoje o seu podcast?
E.M: A primeira coisa a dizer é: comece. Parece meio óbvio, mas é fundamental fazer, se experimentar no processo de falar, de ler a informação e de escrever sobre a informação ao montar um roteiro para o cast. Além disso, procure falar sobre algo que realmente goste e que tenha alguma afinidade ou conhecimento. Vai ter erros no começo? Claro que vai, mas certas melhorias vão se desenvolvendo com o tempo e a prática. Não desanime com as críticas que você vai receber, mas também não ature os “xiitas”, que te atacam por aspectos pessoais. Mandem os doentes pastarem e siga em frente. E o mais importante: faça um podcast com a sua cara, com a sua identidade. O grande barato da mídia é a variedade de programas, estilos de edição, bordões, etc. Quanto maior a variedade, mais rica a mídia do podcast será, e maiores são as possibilidades dela prosperar no Brasil.
A: Para finalizar, gostaria de acrescentar algo?
E.M: Conheçam o podcast, pois é uma mídia prática, moderna e divertida, além de ser muito barata e para todos os gostos e idades. E o mais importante: é uma mídia independente por excelência, pois é feito por pessoas que amam os assuntos que falam, e que se dedicam de forma exemplar para repassar o que sabem para outras pessoas.
Ficou querendo conhecer mais sobre o Homem dos 1001 podcasts? Acesse então:
www.targethd.net
www.feedbacknews.com.br
www.twitter.com/oEduardoMoreira
4 comentários:
Olá Max!
Muito legal e interessante a entrevista com Eduardo Moreira. Sou aqui de Campo Grande/MS, onde o Moreira tem algumas raízes e recentemente pude conhecê-lo pessoalmente. Uma palavra para descrevê-lo: SUPERAÇÃO!
Apesar de participar do Podcast SpinOff, me considero muito mais ouvinte a podcaster (quem sabe um dia :D). Concordo que é preciso ter um retorno mínimo que é o comentário nos episódios, para se dar andamento ao cast.
Parabéns pelo blog e parabéns ao Moreira!
Grande abraço!
Conheci o trabalho do Eduardo Moreira no chat de gravação do podcast do nowcafe e não parei de prestigiar o seu trabalho.
Gosto muito do targethd e agora o targethdNews.
Vejo um grande profissional e sempre espero a sexta-feira para baixar os podcasts
Muito bom Moreira. De Araçatuba para o mundo, hehehe. Valeu pela citação. Abraço.
@ Leandro Ramos
Seja Bem vindo Leandro. Com certeza o Eduardo Moreira é um caso de superação, principalmente por tocar tantos projetos paralelos e ter raça para editar o M2List e o TargetHD ( eu ainda não escuto o Feedback e o Spin-off, mas pretendo ouvi-los em breve). Sobre os feeds é uma pena que o brasileiro não comente ou mande um e-mail sabendo que mais da metade ouve o podcast no site. Mas enfim, quem sabe a "morte" do Monacast sirva para fazer os ouvintes acordarem.
@ Leonardo Vou confessar que nunca ouvi o nowcafe (assim como a maioria dos pods sobre tecnologia pois o tema não me agrada), mas depois da entrevista estou pensando em colocar alguns pods-geeks no meu Itunes para ver se não foi preconceito meu ignorar sumariamente eles.
@ Vanassi Caraca! O Sr.DD11 no meu blog. Você não tem ideia de como isso soa bizzaro para mim. Mas seja bem-vindo e publique o DD11- 50 logo rapaz!
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