Pronto! Esses dois meses de estágio me permitiram concluir totalmente a leitura do meu blog, o quinhão. Li tudo; do primeiro texto de 30 de outubro de 2003 até 3 de junho de 2008. E o fiz porque tive a esperança de identificar uma personalidade. Não se trata de uma auto-afirmação, um narcisismo. Eu queria ler meus textos como quem tenta ler a si próprio, e digo que foi uma ótima análise. Só eu posso ser o analísta ideal para mim.
Lendo os primeiros textos, vi que se tratava de outra pessoa; cheguei a me achar um cara até meio conservador, mas ao mesmo tempo esculhambador. Exigia mudanças para o mundo e para os outros, mas eu mesmo não aceitava mudar. Em textos em que eu descrevia viagens que fiz com amigos ou com a família, eu mais falava sobre os livros que levei, as músicas que ouvi ou o que passava pela minha cabeça ao defender a solidão como única forma de se desenvolver um potencial criativo, do que da viagem em si. Acho que, na verdade, nunca dei bola para onde eu estava: o que sempre mais me interessou foram as coisas que carrego dentro de mim.
E o que mais me motivou a ler todo meu blog - o que não é tão agradável assim, mas pelo menos garante momentos de diversão e de arrependimentos - é a ânsia de saber o que ainda resta em mim, hoje, daquele que escrevia em 2003, 2004. O que ficou?
Constatei que um traço notório em mim é a dificuldade de me expressar por meio do uso de formas, como posso dizer?, muito corretas, muito estruturadas, muito previsíveis e tradicionais. Mas acho até que eu escrevia melhor...Porque como ainda não tinha muito conhecimento academico, não me preocupavam as idéias academicistas, as ideologias que deveriam, ou não, conter nas entrelinhas, os conceitos, as citações, as hipóteses, os dados, os argumentos. Identifiquei diversas vezes uma escrita despreocupada e fiel ao que eu entendia como sendo prioridade sempre que ia escrever: despressurizar minha mente.
Eu estava mais preocupado com o verbo, e menos com o adjetivo. Com o tempo, deixamos de lado o
conceber idéias para aprimorarmos nossas capacidades interpretativas; não que interpretar não seja conceber idéias, mas o que quero dizer é que aquilo que sentimos, e passamos pro papel, muitas vezes já é repleto de idéias, conceitos, metáforas interessantes, não se precisando, aí, de uma muleta teórica. Portanto, meus textos eram mais livres, no sentido de que, partindo de minha esperada ignorância conceitual, aos 15, 16 anos de idade, eu só me valia das idéias que habitavam minha cabeça para produzir um texto. Era de algo que me incomodava que eu partia para a reflexão. Sei que a crônica tem muito disso, mas nem em crônica eu pensava na época. E sei que muitos de nós, que hoje trabalhamos com textos, sabemos disso.
Tanto que lendo os textos mais antigos que escrevi, percebo agora que desperdicei ótimas oportunidades de aprofundar algumas idéias, sobre, por exemplo, realidade/imagem. Se hoje possuo conceito de sobra, à época o que eu tinha de sobre era potencial de observação. Eu não sabia do Deleuze, mas me perturbava algo que, para o autor, se configurava como mote para estudos profundos, debates filosóficos de promorções gigantescas perto de minha simples inquietação. Mas acho que é daí que o jornalista parte: da observação.
O blog depois foi ficando mais poético, mais abstrato.
Não queria ter perdido o medo de pensar, sem antes ter que inserir idéias nos contextos dos debates pertinentes. É legal quando se arrisca num pensamento sem se preocupar com o outro: em muitos casos, como defendi ao longo do
quinhão, a solidão é boa mesmo, pois isola, coage, educa e liberta...tudo ao mesmo tempo.
Sinto saudades de uma escrita mais licensiosa...
...coisa esta, por incrível que pareça, mais difícil de se fazer.