19 de jul. de 2012

Um rascunho

etc etc

10 de mai. de 2012

Hoje cedo tive acesso aqui na Unicamp a um artigo da pesquisadora Lindsay Palmer, da Universidade de Santa Barbara, Estados Unidos, publicado na Television & New Media de junho deste ano. O artigo (iReporting an uprising: CNN and citizen journalism in network culture - versão completa, em inglês clicando aqui) fala da pesquisa que a autora realizou sobre os iReporters da CNN, modelo de jornalismo colaborativo lançado pela emissora norte-americana em 2006 ( http://ireport.cnn.com/about.jspa ). Trata-se de uma das primeiras experiências do chamado jornalismo cidadão, em que uma massa de leitores são convidados, por um veículo tradicional da mídia, a colaborar com, principalmente, fotos e vídeos. Dentro os lemas da CNN estão a tentativas "de cobrir todo o globo", todos os cantos do planeta, numa grande "força global unificada". O modelo dá ao cidadão a possibilidade de se tornar dono da própria informação, com um senso de ativismo; e o veículo de mídia, na contrapartida, ganha colaboradores que atualizam o site sem exigir nada em troca.

A pesquisadora debruçou-se sobre dois momentos específicos do iReport: a reunião do Global Challenge em 2010 e as manifestações no Irã após reeleição de Mahmound Ahmadinejad,em 2009. O objetivo do trabalho de Palmer foi mostrar paradoxos nessa relação entre jornalismo tradicional e o jornalismo cidadão. Segundo ela, a CNN, com seu iReport, simultaneamente explora e depende do trabalho de seus colaboradores, especialmente na cobertura de manifestações políticas. Contudo, uma das conclusões é de que o jornalismo cidadão é menos um história de exploração e mais uma história de negociação - e de como o enfraquecimento da hegemonia do jornalismo tradicional, na representação do mundo, se desdobra na crescente ambiente de produção informal em rede. 

Palmer afirma que a quebra da hierarquia na produção de notícias não deve ser atribuída apenas ao crescimento das tecnologias digitais, embora elas de fato melhorem a propagação de mensagens dos cidadãos. Mas além disso há uma verdadeira crise da credibilidade do jornalismo profissional, marcada por uma incapacidade do mediador entender as dimensões de um fato. Isso aumenta o "gap" entre o jornalismo tradicional e seu público. E, nesse sentido, veículos como a CNN e outros pelo mundo destinarem espaço para a atuação desse jornalismo cidadão chega a ser caso de vida ou morte do próprio jornal, antes de representar um fator modernizante. Há, também, cada vez mais, a noção de que o jornalismo enquanto guardião da democracia é uma verdadeira falácia, caso não considere a produção daquele que presenciou ou vivenciou o fato localmente. Contudo, não pode-se perder de vista que o iReport continua sendo uma forma de corporatização do jornalismo cidadão.

Uma das metodologias da pesquisa foi realizar entrevistas com participantes do Global Challenge de 2010 e com iReporters que cobriram a insurreição iraniana de 2009. Na ocasião da reeleição de Ahmadinejad, foram deflagradas manifestações em todo o mundo afirmando que a reeleição havia sido fraudada. Muitos países, como os Estados Unidos, não reconheceram a nova eleição. Outros, porém, como Brasil, China e Rússia, reconheceram a legalidade - e daí foram protestos e mais protestos. O objetivo de Palmer com isso foi bem peculiar: ela não queria saber o que os iReporter pensavam exatamente sobre a reeleição; a ideia foi examinar as possibilidades e os perigos da ultra-visibilidade prometida pela CNN. Sim, nas retóricas da CNN sobre o iReport prometeu-se que, com milhares de colaboradores espalhados pelo mundo, com câmeras nas mãos, tudo poderia ser coberto, tudo seria noticiado. Neste caso, Palmer encontrou diferença entre aqueles que cobriram a Global Challenge e aqueles que acompanharam o Irã. 

Mais para frente Palmer tem como objeto de estudo as razões que fazem pessoas a trabalharem de graça para a CNN. E chega a três tópicos paradoxiais, que depois serão melhor elaborados no decorrer do artigo:

1 - A indústria de notícias dos Estados Unidos esforçou-se, com preocupação, para manter o monopólio durante a insurreição no Irã, enquanto continuou explorando o trabalho de cidadão como fontes.

2 - O paradoxo status do iReport enquanto trabalho não remunerado que, especialmente no caso do Irã, colocou em xeque noções dominantes de valor ao privilegiar visibilidade global ao invés de compensação monetária ao colaborador.

3 - O caráter perpétuo de negociação fundamental para que haja a interconectividade, exemplificada pelo sofisticado poder da CNN para controlar iReporters que publicaram comentários que atentavam contra a reputação da Nokia, num episódio de aproximação entre a empresa e o governo iraniano. E também em casos de iReporters usando o próprio canal da CNN para criticar a CNN, após tentativas da grupo midiático silenciar seus colaboradores.

Palmer afirma que embora a negociação entre colaborador e veículo de mídia não envolva pagamento em dinheiro, o que o cidadão procura é uma forma de tornar seu ponto de vista público. Procuram reconhecimento, muitas vezes até perigoso para eles, dependendo do grau das denúncias. E essa visibilidade só é possivel por meio da interconectividade com a rede, a mesma que os explora como mão de obra para gerar conteúdo. É puro paradoxo.

Mas a leitura do artigo na integra é indispensável para quem quer entender um pouco mais sobre essa relação.

31 de dez. de 2010

Mudamos



O endereço do Androceu mudou. Essa, porém, é apenas uma das mudanças que teremos no ano que vem. O Androceu cresceu e deixa o seu canto sossegado para trás para começar uma nova fase. Algo brilhantemente novo. Podem anotar e me cobrar depois. Eu garanto.
Enfim, não vou desperdiçar muitas linhas com o agora defunto Blog Androceu. Sim, o Blog Androceu está morto, enterrado e ficou longe de receber as homenagens merecidas. Morre o Blog Androceu, surge apenas o Androceu. Quer saber a diferença? Basta entrar no endereço logo abaixo.

Caixa Preta


Sabe, Cláudia, no final não foi tão difícil. Eu vou seguir um caminho e você vai seguir outro. Simples assim. A vida segue. Sem choro, discussão, mágoas ou carão.
Você se lembra, Cláudia, quando começamos? Éramos jovens, cheios de energia, ideias e achávamos que íamos mudar o mundo do dia para noite. Eu com meus romances explosivos e você com suas ideias revolucionárias. Hoje, Cláudia, meus romances estão por aí, nas gavetas de editores, nas pratilheiras dos amigos mais próximos ou transformados em cigarrinhos amadores. Não ria, Cláudia, pois seus manifestos não devem ter tido um final muito mais feliz. Tanto potencial Cláudia, mas para que? Hoje, adultos, somos uma caricatura de péssimo gosto daquele tempo de inocência.

Dias desses, Cláudia, achei nossa caixa preta. Você se lembra dela? Lá estão nossas nossos pequenos bilhetes de amor, nossas fotografias do tempo de faculdade, ingressos de cinema amassados e a letra original daquela serenata que toquei no seu aniversário. Tantas memórias. Mas agora tudo isso é passado, Cláudia. Tudo é passado?
Enquanto mexia nela, achei uma foto nossa com o Lobo. Eu não sei se você sabe, Cláudia, mas o Lobo se casou. Se formou, foi trabalhar, abandonou a boêmia e acabou se casando. Justamente o Lobo, Cláudia, o maior dos solteiros, aquele que afirmava aos quatro ventos que jamais seria domado, se casou. Pois é, Cláudia, ver o Lobo no altar, vestindo um terno e sorrindo foi quase uma revelação para mim. Transcendi, me tornei uma pessoa melhor. Acho.
A caixa preta havia parecido uma ótima ideia na época. Seria o nosso Porto Seguro. O lugar que voltaríamos nossos olhos quando o relacionamento saísse dos trilhos. Admito. Ela evitou que o nosso fim chegasse mais cedo. Valeu a pena?
Lembro, Cláudia, de uma briga nossa. Briga boba. Algo sobre um das minhas listas. Você nunca gostou delas, não é verdade, Cláudia? Lembro que você disse que nunca mais queria me ver e saiu pisando duro. Você não sabe, Cláudia, mas eu sempre gostei do som dos seus sapatos de bico fino pisando duro.
Naquela noite, Cláudia, eu chorei. Eu, que não havia chorado no enterro do Almeida, que havia sido o meu melhor amigo por toda a vida, chorei como uma criança assustada naquela noite. Admito. Tive medo te ter perder, Cláudia. Muito medo. Pensei até em me suicidar naquela noite. Até hoje agradeço o Renato por ter evitado que eu cortasse os pulsos. Hoje, porém, parece bobagem, mas não chorei quando você disse que não queria mais me ver e saiu pisando duro com os mesmos sapatos de bico.
A caixa me trouxe lembranças, Cláudia. Achei nossos primeiros ingressos para ver uma peça do Ibsen. Você lembra? Na época, eu tentava me passar por um intelectual metido a sabichão e você, vinda do interior estava maravilhada com o teatro dito de vanguarda. Só me lembro do final da peça você ter agarrado o meu braço e ter dito que nunca havia visto um teatro de arena. Foi lá, naquele momento, que pensei que poderia gastar o resto da minha vida com você. Sonhos, Cláudia, sempre fui um sonhador, e você, dentre de todas as pessoas, sabe disso.
Achei também uma fotografia nossa no Bar Azul. Você não deve saber, afinal deve estar muito preocupada com A Grande Questão, mas o Bar Azul fechou. Virou uma boca de traficantes de drogas que passam o dia ouvindo uns funk neuróticos. Você deve se lembrar dessa foto Cláudia. Lá estamos nos, felizes e alegres no começo do namoro. O Renato vestindo a sua tradicional camisa do XV de Piracicaba, o Almeida com o baralho, o Lobo com o seu sorriso maroto e o Eduardo com aquela barba de comunista que prometeu que jamais tiraria, mas raspou por causa da Vânia.
Você se lembra, Cláudia? Foi lá, naquela mesa no canto que demos o nosso primeiro beijo. Estávamos discutindo Habermas, McLuhan ou a defesa do Guarani. Não me lembro ao certo, pois havíamos passado um pouquinho da conta naquela tarde. Lembro das garrafas espalhadas pelo chão do bar. Lembro do perfume que você usava naquele dia de verão. Lembro que alguma coisa em seus olhos me diziam que eu deveria ter você. E não me lembro de mais nada. Só me lembro que foi lá que experimentei seus lábios pela primeira vez. E a segunda. E a terceira...
A caixa está vazia. Tomei uma decisão, Cláudia. Ao reconhecer ela no meio dos livros pensei em queimar ela, destruir o passado. Nossos beijos, bilhetes e brigas nunca existiriam. O álcool faria o favor de apagar tudo no meu cérebro. Você, Cláudia, deixaria de existir. Não seria bom se não tivéssemos nos encontrado? Nosso futuro poderia ser completamente diferente. Eu poderia ser o mais jovem escritor a receber um Jabuti e você poderia ser a primeira presidente mulher do país. O passado, porém, não pode reescrito. E se pudesse ser reescrito? Você, Cláudia, abriria mão de nós para viver uma outra vida?
Guardo a caixa no armário. Desisto de queimá-la. Ela ficará lá, Cláudia, como um templo abandonado. Um lugar onde fieis já não vão mais rezar a sua divindade. A caixa ficará lá, Cláudia, abandonada. Será o testemunho de um amor que não sobreviveu ao tempo. Um amor que pensávamos que duraria por épocas. Sabe, Cláudia, no final não foi tão difícil assim. Eu vou seguir um caminho e você vai seguir outro. Simples assim. A vida segue adiante. Sem choro, discussão, mágoas ou carão....

25 de dez. de 2010

Natal 2.0

Dezembro é um mês especial ao redor do mundo. Se você é chegado a Religião Antiga dos antigos druidas, é nesse mês que cai o Solsticio de Inverno, a noite mais longa do ano, que marca o início de um novo ciclo. Se você é do auto aclamado "povo do livro" provavelmente já comemorou Chanucá, a festa das luzes. Budistas, como o infame Cabo Bonfim, conhecido na ZL como Dentinho, celebram o nascimento de Buda em Dezembro.
Contudo, para mais de 70% da população brasileira, 25 de Dezembro, que começou poucos minutos atrás, é o dia do nascimento de um certo cabeludo que iria mudar a história da humanidade.

23 de dez. de 2010

19 de dez. de 2010

Dias desses, na ex-terra da garoa...




- Hey, isso é um assalto!
- Calma. Tá aqui a carteira e o celular.
- Tá me tirando ai prai? Passa a porra do guarda-chuva pra cá!

( "Conversa" escutada de orelha em um ônibus às 6h30 da tarde enquanto caia o mundo lá fora)